quinta-feira, 23 de junho de 2022

Flores silvestres

 


Os sismógrafos não param. Parecem a venda livre dos argumentos desfeitos. Na tabela periódica dos tipologistas está tudo estagnado e separado por divisórias e estes adormecem descansados enquanto contemplam o seu mundo perfeito, exacto como a matemática (que é apenas um dos dedos de Deus). Já não encontro vagar nem disposição para respirar o mesmo ar claustrofóbico dos monges indefinidos entre o cavalo e o paramento (o único lugar na tabela periódica ocupado por dois tipos de ideia). Os sismógrafos não param porque eles estão sempre a tremer e a atacar, tal como os seus adversários constituídos por lama de esquerda. Hoje andei por Sintra. Um primor! Verdejante e livre de vermes, pelo menos naquela encosta... E que bem que estavam as flores! Pareciam ter sido pinceladas nos muros das quintarolas esquecidas. Chega-se a um ponto em que a função já não interessa e resta a resistência pura e simples do que somos, sem grandes pensamentos, apenas essa contemplação sem a mácula da tentativa de compreensão. E lembrar que perante Deus, estamos todos nús, como no Paraíso. Se as sereias passam, que passem, com as sua caudas de mar, se os centauros se erguem, que se elevem sem me incomodar, mesmo não cabendo na tabela em nenhum lugar, ainda assim passam mesmo que os diligentes da sabedoria possível ericem os seus espigões semi-atentos face a uma realidade maior... Diz a voz da Arte, que os sacerdotes estão entre os artistas e que os guerreiros se dispersaram nos campos de batalha para mais não serem vistos, nem nada serem. E, reservadas, as flores silvestres ignoram as batalhas dos campos onde florescem... Nada é para elas e tudo é delas, nas sua circular, perfeita e imparável roda imóvel. 

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