A espantosa ironia dos factos é aquela que apenas se prende ao lodo e fecha os olhos ao céu. Ainda dei voltas à cabeça a tentar entender mas, logo a seguir, fiz silêncio e, nele, a resposta surgiu como um ponto de luz. Dispersão, materialismo e soberba, eis a marca da nova juventude. Ou isso ou a estupidificação que a Igreja oferece a troco de uma suposta salvação. São estes os pólos em conflito. Depois, os restos de intelectualidade envelhecida que circulam por aí, queimam os últimos cartuchos reclamando a elegância perdida, mas sem olhos para a beleza, nem capacidade de ver as almas. Afinal, foram eles os geradores de tudo isto e é natural que assim seja. Pariram dementes e agora queixam-se da obra. Nos meus olhos claros de céu, sou a águia que não popa o voo e a caça a todos eles. Silenciosa a ave passa, rápida, inflamada pelo próprio sol, renascida a todas as horas do dia, sem a noite das estrelas, com o olhar fixo na luz. Maria Madalena abraçando o sol, como pintei há trinta anos, muito antes das Monas Lisas a duas dimensões e dos castanhos danados por Santos Graais. Forte, como um tambor, o meu coração pulsa ao ritmo do inferno que vislumbro quando voo quase em queda livre e os seguro subitamente com as minhas garras e os obrigo a contorcer-se no ar. Por fora estão estáticos e cheios de certezas, mas é o engano que trazem dentro de si aquele que a águia leva para os céus onde os deuses contemplam as entranhas oferecidas, onde as pesam e onde tecem, a partir delas, o futuro. Nunca terão elegância que desejam enquanto só olharem para o lodo e as novas gerações serão as mais enganadas e serão elas próprias o lodo que agora vos repulsa tanto...
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