quinta-feira, 18 de abril de 2024

O deus, o provinciano e o actorzeco

 

 

https://antena1.rtp.pt/programas-antena-1/alguem-diga-a-joaquim-de-almeida-que-nao-e-al-pacino/

O provincianismo português, a falta de segurança em nós próprios e a subserviência ao estrangeiro estão incrustadas na nossa gente. Este podcast de Luís Osório, é mais um exemplo disso. No triângulo mental criado pelo autor do texto, existe o deus Polanski, o provinciano que é próprio Luís Osório, fiel representante de três dos maiores defeitos da nação acima mencionados e um actorzeco que venceu lá fora. O texto até não começou mal, mas quando Joaquim de Almeida tem o desplante de duvidar da coerência de um guião que lhe foi apresentado pelo próprio deus da película, aí a coisa começa a correr menos bem. Osório indigna-se porque o atorzeco não chega aos calcanhares do deus Polanski, e tudo o que o deus Polanski quer é para cumprir. O actorzeco Joaquim, como bom português, deveria colocar de lado o seu gosto pessoal, os seus critérios de qualidade, aceitar humildemente o convite, chorar de emoção e até e beijar os pés do mestre, dizendo-lhe que faria tudo por ele. O mais engraçado nisto tudo é que Joaquim de Almeida acabou mesmo por aceitar o papel, não pelo guião, mas pelo realizador. Tudo estaria bem se tivesse ficado em silêncio, mas caiu no erro de abrir a boca e de se manter firme relativamente à sua apreciação do guião, nada que um actor não tenha o direito de fazer. Fico a pensar qual seria o comportamento  que na cabeça do jornalista o actorzeco português (tratado com paternalismo pelos americanos) deveria ter tido e das duas uma: ou devia ter aceitado logo o papel, pois tratava-se de um convite feito por deus, talvez até mesmo sem ler o guião,  ou deveria ter ficado calado, guardando o que se lhe passava na alma para si porque perante os deuses estrangeiros só temos de silenciar. Nós, portugueses, estamos assim desde que D. Sebastião resolveu desaparecer nas areias de Alcácer-Quibir, na queda total na disforia. Isto até vem a propósito de uma conversa que estava a ter à mesa ainda há pouco, antes de ouvir esta magnifica prosa de Luís Osório que exibe, qual super-homem, a t-shirt do provincianismo, da falta de segurança e da subserviência portuguesa (pode até mesmo mandar fazer bastantes t-shirts com essas temáticas, era negócio garantido pois o povo português, no geral, identifica-se com todas as suas palavras), dizia eu que estava a conversar à mesa sobre a forma como quando nos dizem desde a infância que não valemos nada, que não somos nada e nem nada do que fazemos presta, nos condiciona os gestos posteriores, nos condiciona a vida, nos tolhe e não nos deixa sermos totalmente nós próprios. Este tipo de pensamento apresentado pelo jornalista está para o  país como está o nevoeiro pairando sobre a pátria. É muito bonito, chega a ser quente, provoca um certo silêncio interior e exterior, mas não nos deixa ver o sol. O texto de Luís Osório, até não está mal escrito, envolve-nos, convence-nos, mas o bom senso passa-lhe ao lado. Bom, da Luz, então dessa, nem se fala. 

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