sábado, 12 de janeiro de 2019

A beleza II


Diz-me a arte que escolhes, dir-te-ei como governas...

Há diferenças entre uma Sinarquia e uma Sinarquia e ainda uma Monarquia.
Vivemos numa Sinarquia porque são as elites partidárias que nos governam. Os governantes chegam ao poder depois de passarem pela peneira das juventudes partidárias e dos partidos políticos. Pela arte que vão escolhendo para a sua casa se verá  como tendem a governar, isto quando se dizem apreciadores de arte, o que é raro...
Depois há a outra Sinarquia, dizem, que seria composta por um governo de filósofos. Pela arte que apreciariam, naturalmente se veria como governariam, mas, o que faz falta, e muita, numa Sinarquia é a noção de Centro, ou seja, falta à Sinarquia um Rei, da mesma forma que um Rei necessita de Conselheiros Sábios (e não apenas filósofos porque qualquer filósofo, mais tarde ou mais cedo, se apercebe da noção de Centro e, nesse instante, passa a sábio) e, pela arte que escolheriam, se veria como governariam. O ideal era um Rei rodeado de súbditos sábios e, dessa maneira, não tinha como escapar à sabedoria, por estar rodeado dela e porque todos os seus súbditos seriam sábios e todos os sábios nunca seriam súbditos porque todos os sábios sabem que a sabedoria vem acompanhada com a liberdade. Deste modo teríamos, de forma natural, uma Anarquia Monárquica.

A sinarquia actual, disfarçada de Democracia é bizarra. A ausência de bom gosto dos nossos governantes é sintoma de patologias várias.

O José Castelo Branco tem extremo bom gosto. A sua casa é linda. O que é raro. Muito raro. Um verdadeiro anarca porque tem bom gosto.

A base da filosofia é o reconhecimento do Belo. Onde quer que ele esteja. Muito mais do que o reconhecimento das minorias. As minorias são minorias. O reconhecimento do Belo é raro e é grandioso. O reconhecimento de uma minoria é muito diferente do reconhecimento do Belo. É a diferença entre a tolerância e o Amor. O Amor não quer saber das minorias. A tolerância vive delas. O Amor não quer saber da igualdade. A tolerância só quer saber da desigualdade.



quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A beleza


Os contemporâneos, os neo-contemporâneos, os pós-modernos, etc e tal... que me perdoem... Mas a beleza é fundamental.
Este gosto ou antes, esta perdilecção actual pelo desfigurado, pelo a-simbólico (porque o simbolo não é aleatório), pelo "tanto-faz" pressupõe uma mentalidade desordenada, inconstante, invertebrada. Mas pressupõe algo pior: a sujeição aos "conceitos" muito mais do que à harmonia visível da natureza.
Estamos a chegar ao fim da linha, ao grau gelo da imaginação, ao frio do Inferno.

Se tudo é um "lugar" mental, que lugar é este? Tão feio?
Se tudo tem um lugar no coração, que coração é este, sempre-absolvido pelos conceitos?

Gosto da subtileza de Guénon no seu livrinho "O Esoterismo de Dante" onde nos diz que uma vez estando no Inferno se começa logo a ascender, e atenção a este termo, "contornando" Lúcifer, o que, estranhamente, faz lembrar o Caminho da Serpente e seus "modos" descritos por Pessoa.
Antes de nos atirármos de cabeça para neo-cultos neo-pagãos em volta da serpente ou de fugirmos a sete pés agarrados à cruz mal se ouça a palavra "Serpente" convém atentar nestas subtilezas da linguagem... Que é simbólica.

Mas isso também é pedir demais nesta época-dormitório que, admitindo o paradoxo verbal, porque é moda ser Zen e Iluminado, não admite nada disso internamente. Nem pode. É uma época sem interior e como tal não há vida interior. Externamente, claro, somos todos "inclusivos", "pró-activos" e se formos distraídos, somos ainda mais: somos "artistas".  Ora, os artistas, são, por definição atentos.

Procurar o paradoxo neste texto é um bom exercício. Artístico e interior.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A História do Estilo


Nunca me preocupei com o estilo. Já nasci com ele. Nunca fiz "experimentações" visuais. Já nasci com um mundo interno intacto. Aquilo que sempre senti foi a urgência de desenhar e pintar esse mundo. Do estilo, não queria saber. Nem nunca me interessou. Era mais essa pressa que me alinhava com o papel. O "vou fazer" sobrepunha-se a tudo. O meu mundo é simbólico porque sou uma alma antiga. 

No outro dia fui ao Teatro. Pela noite de Lisboa, na sua baixa, havia imensas lojas abertas que desconhecia porque hoje sou saloia com gosto e honra. Cada uma tinha o seu estilo, o seu modo de comunicar, sobretudo com os turistas. Havia uma espécie de "standartização" do estilo. Uma espécie de obrigação em se ter imaginação. Excepto numa única loja na qual entrei por ser diferente, para além de ter estilo. Lá dentro estava um cão num tapete. O verdadeiro estilo, tido sem querer. A dona da loja chamou pelo seu cão: "Camões!". Tinha entrado na loja certa. Camões nunca se preocupou com o estilo. preocupou-se apenas com a forma: um soneto, por exemplo, que é difícil de fazer. O estilo saía-lhe naturalmente, como quem não quer a coisa e não queria, de facto. O seu estilo não era apenas a forma de olhar. Era, evidentemente, como uma evidência, aquilo que via... Porque sabia ver o mundo interior no mundo exterior. 
Nunca me preocupei com o estilo, nem com experiências ou experimentações. O mundo interior corre como tem de correr, intacto e igual a si próprio. 
Não há volta a dar para uma alma antiga. A minha liberdade interna não se adapta a esta liberdade externa da "experimentação" (a experiência de que fala Camões nada tem a ver com a "experimentação"), da "procura de um estilo". O que se deve procurar é um mundo interior, mas esse também não se procura. Encontra-se lá, como quem não quer a coisa. E não se quer, de facto. Dai que não seja comercial nem esteja à venda para turistas... Como o cão chamado Camões na loja não o estava. A loja mais bonita da baixa. A única na qual entrei. Tinha alma e um psicopompo.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Portugal Culto e Oculto


 "Série de 10 episódios sobre espiritualidade retratada através da história e das estórias de algumas das ordens espirituais e religiosas existentes em Portugal.
Uma viagem conduzida pelo historiador João Rodil e pela jornalista Rita Saldanha".

Depois de ver todos os episódios na RTP 2 (excepto o último que vai ser emitido para a semana) da série televisiva assim apresentada, fiquei com a ideia de que a História é volátil. Seguindo o guião, não há corrente portuguesa que não seja boa, casta, quisá santa e de boas famílias...  Um inocente que nada perceba fica perdido como numa loja de bolos deliciosos sem saber o que escolher. É a chamada História "fast-food", sem complicações nem imaginação. À conta da palavra "tolerância", palavra detestável, aliás, porque nega o Amor, reduz-se tudo à expressão mais simples e é assim que se prova que a "harmonia" (entre aspas, sublinho), entre as partes, se torna possível, nos dias d'hoje, se se for superficial. Quem aprofunda entra logo em desarmonia. O culto e o oculto apresentados são uma espécie de visão "light", passageira (como é praticamente tudo na televisão), a História é volátil e sem rigor, as omissões são construtoras de imagens e os cartões de visita para cada "sociedade", esses sim, são rigorosamente impecáveis e todos iguais uns aos outros. Um tédio, uma maçada e um convite a que os inocentes percam tempo na tentativa de encontrar qualquer coisa. Sem graus de exigência à partida, a chegada fica sempre mais longe. A televisão é, por certo, o meio mais eficaz na informação e na desinformação.  De História, este programa não tem nada, é antes um meritório exercício de alguma informação e de muitíssima desinformação. Mas nada mais podemos esperar nos dias d'hoje e muito menos que alguém inocente vá estudar depois de ver o programa, quanto muito, vai a correr bater à porta desta ou daquela sociedade (indiferentemente pois todas aparecem com uma imagem decente, correcta e... politica, por isso mesmo). Estudar, dá muito trabalho e não há tempo a perder, mesmo que se tenha de perder tempo. Com o estudo da História ganhamos tempo, com este programa, perdemo-lo. 

(Cynthia Guimarães Taveira)

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O Rei


Se o Rei é escolhido por Deus e elevado pelo povo a pergunta que se faz nem sequer é: "Mas onde está o Rei?", é "Onde está o Povo?"
Antigamente o povo era aquele que trabalhava com as mãos, fosse nos campos, fosse pescando no mar, fosse no artesanato. Bandarra, por exemplo, seria um mestre sapateiro. Era um mestre no seu ofício como havia mestres de embarcações e gente que tirava o mestrado na vida dura do campo. Os Mestres andavam pelo povo...e eram o povo, e por isso, porque haviam recebido o mestrado nos seus ofícios saberiam reconhecer os frutos bons. Os frutos do labor, os frutos da terra, os frutos do mar. Era gente que, por aprendizagem, na sua maioria das vezes colectiva (o que quer dizer que também aprendiam sobre a natureza humana e daí o saber ou sabedoria, em suma, o mestrado) acabava por saber reconhecer a qualidade e eram eles que, perante o candidato que lhes era apresentado pelas esferas maiores o elegiam, o erguiam em ombros ou numa salva (salvé!), acima do chão e o escolhiam como Rei, como pessoa com qualidades para essa função. O povo hoje praticamente não existe porque se desligou da natureza e dos trabalhos com as mãos. A sabedoria é teórica e quando não é, é com frequência individual, perdendo-se, em conjunto com a sabedoria do labor, a sabedoria da natureza humana. O Rei pode passar por entre as gentes mas as gentes não são mais gentes e o Rei fica no segredo dos deuses porque o povo perdeu a linguagem divina. As gentes que são quem mais ordena, mudas, cegas e surdas, autoelegem-se numa sucessão de equívocos e só com muita sorte, da do género da Lotaria, acerta num Rei. Mas é sorte, não é sabedoria... A sorte é transitória, a sabedoria, muito menos.

Cynthia Guimarães Taveira

sábado, 8 de dezembro de 2018

Há canetas e canetas


Marine Le Pen respondendo a uma jornalista portuguesa que a questionou sobre o facto de uma elite francesa andar a mudar--se para Portugal porque aqui pagam menos impostos, resolveu "ensinar" a jornalista portuguesa dizendo-lhe que havia dois tipos de mentalidades: os nómadas e os "enraizados". Ela, Le Pen, representaria os "enraizados" que permanecem no território pensando nos filhos e nos netos, os nómadas, esses interesseiros, iam-se embora quando "a água do poço" acabava e estavam-se "nas tintas".  Brilhante! A mesma distinção é feita na Bíblia logo no princípio (escrita por esses nómadas). Caim (o sedentário) mata Abel (o nómada). É aliás, o primeiro assassinato da história...
A diferença entre uma "pen" e uma "drive pen" é a diferença que há entre a mão humana e um robot. A senhora, inculta, devia ter estado calada perante a portuguesa porque a portuguesa representa um povo que tem raízes com 900 anos e tem, em simultâneo, uma tendência para ir "por esse mundo fora". De maneira que, estas extremas direitas incultas, más, fanáticas e paranóicas devem ser aproveitadas ao máximo quando toca a medidas proteccionistas de um país e devem ser logo deitadas fora mal ultrapassem os limites, tal e qual os soldadinhos que são rapidamente esquecidos quando já não fazem falta. Quando os políticos querem ser soldados há que "sangrá-los" bem, como se faz aos porcos e depois atirá-los às feras... Dos soldados tenho alguma pena porque é sempre triste o seu destino, destes políticos-robots, não tenho pena nenhuma. Não têm cultura e, por isso, não têm passado nem futuro. Está-lhes reservado o destino triste da "sangria" por vontade própria. Agora vir dar lições aos portugueses... Essa não. De sedentários e nómadas percebemos nós muito e de ambos temos um pouco. Não admira que Portugal seja a Coroa da Europa. Coroa, aliás que a França foi a primeira a rejeitar. Agora não se queixem e resolvam, como pais central que sempre foram, e fazendo "pandan" com a Alemanha, o embróglio europeu que criaram. Mas não nos venham dar lições.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Para além disso...


E diz-nos René Guénon, no seu conjunto de textos que compõem a obra  " Os Símbolos da Ciência Sagrada", no capítulo "Pedra Angular": 
"O destino dessa pedra só pode ser compreendido pelos construtores que transpuseram o esquadro e o compasso".

Nao foi sem ponderar que escolhi esta imagem para traduzir tal transposição. 

O traço solto e exacto é o dos repentistas onde não há espaço que não seja preenchido pela totalidade do seu ser de modo que, alcançados os limites do seu próprio ser, encontram a transcendência, ou seja, aquilo que está para alem dele.