quinta-feira, 19 de maio de 2022

Os bobos

 


Notas: nesta época caótica nada há a fazer a não ser assistir ao caos. Vejo aqui um pendor contemplativo, ainda que "ser diferente" seja uma forma de acção, submersa tal como o território Português, na sua extensão, se encontra maioritariamente submerso e há uma certa tranquilidade nessa contemplação ativa que resolve conflitos em vez de os estimular.

Outra Nota: o infantilismo leva a que se olhe o mundo, não com olhos de criança, porque estas estão apenas agraciadas pela constatação, mas com olhos deturpados e postiços provindos da mira de um qualquer boneco da Disneylândia, o equivalente a palas nos olhos. É graças a esse olhar, tresmalhado, que assistimos a virtuosos intelectuais, autores de biografias de Pessoa, a apelidá-lo de alguém que nunca cresceu. Ao contrário de alguns "cérebros iluminados" (devia ter colocado mais aspas, duas só não chegam) que logo apareceram com as sentenças de um novo Papa do Oriente que lhes escapa e desadaptadas à situação e pactuando assim com os intelectuais do Regime (que pelas costas tanto condenam), convém reafirmar que quem profere tais palavras sobre Pessoa, se encontra na esfera do fantástico e não da Realidade. Não há riso nisso, há a tragédia profunda da decadência. Se não vivêssemos na Era da Decadência, não seria necessário "ser diferente". E é necessário sê-lo. Aos tolos o que é dos tolos, e assim é, e aos diferentes aquilo que é para eles, e assim é. Na época da inversão das coisas são os infantis a infantilizarem os adultos e só os tolos, que nunca são adultos, confundem as crianças com o infantilismo desta época. É obra: tamanha confusão. A tragédia desta época é rir-se de si própria. 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Mãe


 A minha mãe faria hoje 89 anos. Faleceu há cinco. Taurina no signo solar e leoa de ascendente, das personalidades mais fortes que encontrei. Desde muito cedo a observava, ao ponto de, com 8 ou 9 anos, lhe ter dito que ela não era minha mãe, mas sim minha amiga. Sempre a vi como algo de exterior a mim. Talvez porque desde sempre soubesse quem era uma quem era a outra. Ela não me ensinou aquilo que as mães ensinam: nem a fazer bolos, nem a ter a casa impecável, nem a dizer mal da vizinhança, nem as histórias de encantar, nem a fazer crochet, nem a viver num mundo feminino e isto porque, a mãe não era assim. Era de outra espécie: a da liberdade. Só mais tarde me interessei por trabalhos ditos femininos, menos o crochet, algo que a mãe sabia fazer, mas nunca ensinou por não lhe dar grande importância. Dava importância a outras coisas. Aos empregados de mesa, se era ou não bem servida, às viagens, aos livros, às línguas estrangeiras, à cultura sob todas as suas formas, aos namorados e paixões, à sua própria ira, ao mar e ao sol e ao vento que a despertava do sono do Antigo Regime que sempre detestou. De 1933 a 1974, viveu em ditadura. E fugia para Paris e para Londres sempre que podia. E vinha com as malas carregadas de livros escondidos por debaixo do forro que era descosido e cosido metodicamente para poder passar na alfândega. Nunca foi comunista, mas detestava que lhe dissessem o que podia ou não ler, que filmes podia ou não ver. A cultura, como o sono, eram consideradas sagradas lá em casa. A música, não se chamasse a mãe, Cecília, era estrondosamente ouvida em manhãs de Sábado e de Domingo, sobretudo e rebentava em Tchaikovsky, Stravinsky, Mozart, Debussy (que amava loucamente), a Carmina Burana de Carl Off, todas as óperas das quais colecionava os libretos que trazia do S. Carlos, o Bolero de Ravel, os Barrocos cintilantes e a nítida sensação de que estávamos cá para usufruir da música. Que elas nos entrasse por todas as portas e janelas e ficasse a residir na nossa casa. O mais estranho na nossa casa era o tempo. Não havia horas para nada. Para chegar, para partir, para comer, para estudar, para dormir, para acordar. O tempo tendia a não existir ou a ser menosprezado. Nunca usei relógio à excepção de um minúsculo que usava num mini-cofre fechado à chave que trazia no bolso. Até o perder. A aventura não durou mais do que alguns meses.

O problema com certas vidas é que se começamos a falar delas, não paramos. Não direi que a minha mãe fosse poeta, mas escrevia poesia. Uma espécie de poesia onde entrava sempre o tempo e o espaço. Duas obsessões abstractas herdadas dos anos sessenta. Lembro-me de uma que começava “paralelas as traves...” ou de outra que acabava com “fuzilaram o Sol”. Conversava-se de tudo lá em casa. Éramos três gatos pingados, eu a minha mãe e o meu irmão exaustivamente analíticos. Desde a política, à religião, aos filmes que víamos e ao dia-a-dia, todos entrávamos em casa com notas de rodapé que soltávamos no quarto da minha mãe onde estava deitada, às vezes por horas, dias... não porque estivesse doente, nunca estava, mas porque, como costumava dizer “o melhor clima do mundo é o da cama”. E era lá que ficava, e ler, a ver televisão, a ouvir música e a estudar. Não era a cozinha nem a sala o centro lá de casa. Era a cama da minha mãe. Era lá que instalávamos uma toalha redonda e fazíamos picnics com batatas fritas, ovos cozidos, tomates assados, fiambre, queijo, azeitonas, pickles e por aí fora.  Era lá que recebia os nossos amigos, meus e do meu irmão. Lembro-me de se querer preparar para uma grande viagem a Itália e de se ter inscrito no Instituto Italiano para aprender a língua (antes disso tinha sido a Alliance Française, uma temporada na adolescência a viver em Londres para aprender o Inglês, o Instituto Alemão) e de espalhar todos os livros na cama, e todos os apontamentos e ainda o gravador para onde repetia as frases em italiano, ouvidas até à exaustão. Fez o mesmo comigo para que aprendesse a tabuada: “2x1, 2” e por aí fora. Fiquei com a gravação durante muitos anos e ria-me porque quando cheguei ao “7x10”, soltei um ligeiro grito seguido de um suspiro. “Setenta”, é ainda hoje o sinal que os mais íntimos reconhecem quando já estou farta.

Embora fosse farmacêutica detestava a farmácia. Mas tinha jeito para ajudar. Havia toda a espécie de comprimidos lá em casa, excepto aspirinas que íamos a correr com dores de cabeça comprar à farmácia do bairro e, sempre que isso acontecia, repetíamos “Em casa de ferreiro, espeto de pau”.

Detestava tachos e louça, o que tornava as refeições completamente arbitrárias. Desde muito cedo, lembro-me das “fases”. A fase da Cândida, uma empregada que chegou a viver lá em casa e que nos acordava com torradas e chá. Não podia beber leite porque vomitava, de maneira que a mãe decidiu que iria ser chá. Nunca pensei aguentar tanta teína. A fase dos tapperwares vindos dos restaurantes, a fase da D. Lurdes que nos dava comida em casa dela e limpava a nossa casa durante o dia, a fase da Rosalina, verdadeiramente trágica porque não sabia cozinhar, (excepto umas lulas estufadas, adoradas pelo meu irmão e detestadas por mim e cujo cheiro impestava tudo e me fazia hesitar na vontade de entrar em casa) e nos obrigava a resolver o problema fora de casa em cafés, restaurantes, supermercados, tudo o que encontrássemos, menos os panados encharcados em óleo dessa fase negra da alimentação.

 Sendo o meu cabelo algo selvagem, a mãe tentava pentear-mo, quando estava para aí virada, e desistia. Ia buscar a laca para acalmar a fúria capilar e o perfume enchia a carrinha do colégio. Só eu sabia donde vinha aquele cheiro da L’oreal, a lata dourada...

Saía à noite. Ia para os bares. Para as suas paixões. Para os seus amigos homossexuais, para os espectáculos de travestis, para os namorados, as danças, a música do S. Carlos, do S. Luís, para o Teatro, para as cervejarias fora d´horas. E muitas das vezes íamos com ela. Ainda hoje tenho horror às tardes. As manhãs e as noites longas são horas decentes, as tardes são um meio termo entre a vida e a morte.

Por causa dela, a minha alma está cheia de vultos de deuses gregos e não sei rezar. Só orar que é outra forma de poesia. A mãe amava os deuses gregos a tal ponto que os sentia presentes quando falava deles.

 

 

(continua, se me apetecer)

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Zenith e Nadir

 

Pois não, Fernando Pessoa nunca cresceu porque já nasceu Enorme, ao contrário dos caça-fantasmas que continuam a circundá-lo e a dizer disparates sobre ele. Não ocorre, a quem diz estes disparates, a seriedade da sua obra, encarada como mero jogo/brincadeira infantil? É uma estranha criança que deixa uma obra tão vasta que ainda está a ser descoberta, que deixa imensas questões na mente de quem o lê. A Universalidade de Pessoa, segundo este pensamento reducionista que minimiza, em jeito paternalista, aquele que é maior que ele, remeter-se-á para o conjunto de pessoas infantis que se revê na sua obra. Lê-lo, compreendê-lo, seria então entrar num plano meramente lúdico e o Universo, que é antigo nas suas ramificações e planos vários (no duplo sentido da palavra),  passaria a ter cinco ou seis anos com as ligações cerebrais ainda em estado de cartilagem gelatinosa. É sempre fácil cair na tentação de achincalhar quem se admira ainda que sob a capa da "compreensão". A quem chamará de "crescido" Zenith? Muito provavelmente a alguém que se situa na esfera da ciência com pretensões à ciência exacta. A esfera da imaginação, do onírico é tão infantil como a vida concreta e abrutalhada dos nossos dias. O infantilismo da época não é a melhor atitude para se julgar o carácter e a grandeza do poeta. Haveria Zenith de passar apenas por uma experiência metafísica experienciada pelo próprio poeta para que ficasse com os cabelos em pé, agachado como uma criança debaixo da mesa da sala, a coberto da toalha adamascada...  Incrível é a inversão das coisas: as editoras obrigam os escritores a ajoelhar-se e os pequeninos afirmam a pés juntos que os Grandes são ainda mais pequenos do que eles próprios. É caso para dizer que tanto fascínio pelo poeta o conduziu à loucura, porque só um louco vê na imaginação o "amigo imaginário" e a crença em entidades superiores como sendo a crença no Pai Natal que traz presentes. Não impera a inteligência, logo a começar pela ideia de que a biografia de Fernando Pessoa explica a sua poesia ou em que a sua poesia explica a sua biografia conforme vá dando jeito ao narrador. O lamaçal assim descrito impõe a firme convicção de que as palavras do poeta são hoje o que menos importa, quando é precisamente isso que o torna Grande e não infantil. Mas numa pequena época como esta, as identificações não vão além do Ronaldo, esse sim, grande, com os pés bem assentes na bola. Desse ou de um cientista que avance com a cura para uma doença qualquer sendo que esta última irá ser imediatamente substituída por outra porque o mal é a falta de Espírito das vacas a olhar para o palácio. O que vale é que não há biografia que valha a sua obra. Venha mais uma. A obra do poeta permanece, pairando acima da incompreensão. Total, pelos vistos. 




terça-feira, 10 de maio de 2022

As línguas da língua.

 



Que sabes tu, das línguas da língua que não nos soltam? Fosse a voz um pranto de amor ou uma espécie de angústia vívida e seria por certo esse o caminho onde nos encontraríamos. Mas assim, não. Assim, são só labaredas voláteis onde não te vejo por entre elas, apenas a escuridão do teu vulto. Nesta época em que tombam as estátuas de sal, onde ficam as palavras? És a ignorância vertical da minha intimidade a sós com elas. Concedo-te a dúvida e nada mais, essa que escalas por frágeis degraus de certezas inacabadas. 


domingo, 8 de maio de 2022

O texto pedido


 Lá vai mais um texto a pedido de várias famílias, não muitas, mas várias. Assim sendo, começo por dizer que é um acto desesperadamente facilitista escrever para se ser entendido, isso provém de uma possível carência de quem escreve (afetiva, de reconhecimento ou outra qualquer) e, nos meios mais elevados, provém da ideia de tripeça, ou seja, três sentidos de interpretação ou ainda da moeda de duas faces, uma interpretação mais acessível, outra mais elitista (as parábolas de Jesus, por exemplo) e/ou ainda a ideia de que os "mestres" dizem verdades sublimes, vindas do alto e que terão o seu nível de interpretação consoante o nível de entendimento (Camões associou o entendimento ao Amor, e estava certo - não é "quanto a mim", estava certo ponto final parágrafo - as discussões são para os inúteis). Mas, a verdade (esta palavra terrível - não existe no Oriente, mas existe no meu coração) é que raramente há verdadeiras tripeça, parábolas, mestres que escrevem (normalmente não escrevem uma linha, não precisam...). Essa coisa de se ter de escrever para se ser entendido é o jogo viciado da fama, do proveito e do arroto final que é extremamente desagradável e pode ser evitado, se tudo o que vem antes dele também o for. Até os nossos maiores são incompreensíveis, e raramente confessamos que são incompreensíveis porque parece mal. Entenderemos tudo em Fernando Pessoa? A sério? Ou em Camões? A sério? A língua portuguesa (as outras não sei e duvido que o sejam - terrivelmente etnocêntrico este pensamento, mas sabe tão bem)  é viva e dança connosco. Aquilo que é mais fácil neste mundo é ser compreendido, entendido, lido com admiração (em terra de cegos... Cada vez mais cegos, não sabia que para além da cegueira ainda havia mais cegueira, mas pelos vistos há - nada como Kali-Yuga para essa aprendizagem...), aquilo que é mais difícil e fácil em simultâneo é ser-se raptado pela própria língua portuguesa porque a sua soberania é imensa e vai para além do próprio entendimento do desgraçado que a escreve (quem escreve a sério normalmente é um desgraçado neste país, agraciado pela língua). Escreve-se porque sim. Sem mais, nem menos. O público está noutra dimensão, mesmo quando várias famílias nos pedem as letras, as palavras e os textos. E o mais estranho disto tudo é que nem sempre as famílias são as do costume. São outras: aquelas que vivem nas palavras, são delas e por elas e de maneira que, à semelhança do escaravelho que tem aquela forma única de se gerar a si próprio, muito semelhante com algo que se traduz como "Eu sou", "Eu gero-me" (algo associado à luz, ao nascer do sol e de toda a presença neste cosmos), o mesmo se passa com a língua. E mesmo que haja o pedido dessas famílias incomuns que vivem nesse espectro sideral, nada nos garante que elas mesmas entendam o que é escrito: pedir não é o mesmo que entender e nem sequer se pode associar à fórmula "Pede e ser-te-a concedido", porque o entendimento já está para além do desejo e quando vem, é como um raio de luz. Quantos textos pobres são entendidos, quantos textos ricos são incompreensíveis? Quanto aos primeiros, podemos responder que são muitos, quanto aos segundos, nunca saberemos, ou se  soubermos já estão em nós. Escrever para ser entendido é para quem tem essa missão no mundo, escrever para se ser desentendido é puro acidente e, normalmente, é para quem não tem qualquer missão no mundo, porque o que escreve não é "normal". É um acidente daqueles inexplicáveis. Não foi em vão que Fernando Pessoa escreveu "Aconteceu-me um poema". Estas famílias das letras, das palavras e das frases são poucas e loucas. Uma verdadeira elite, sem a outra face da moeda, o Zé Povinho. Bastam-se a si próprias como o escaravelho. São puro sol. As sombras que se danem... 

domingo, 1 de maio de 2022

Lapa

 


O mundo, tal como está, está um caos. Passo por ele num enorme silêncio e com um longo, longuíssimo manto real. À vista destes líderes, não há rei que vá nú. E os piores líderes ainda estão para vir, preparados por uma humanidade vazia, cada vez mais destituída de si. Esta época é achatada como uma lapa, sem qualquer tipo de profundidade. É uma lapa em todos os sentidos, até no facto de ser lapa e de não nos vermos livres dela e dela, só o silêncio da caverna nos acolhe com a dignidade que merecemos. 




domingo, 10 de abril de 2022

Ruptura


 

É verdade que somos elementos fraccionários de uma Unidade que ninguém conhece. As várias camadas de informação conseguem percorrer vários espectros entre a verdade e a ficção, não direi todos, porque não sabemos da Unidade, mas de muitos deles. Hoje há a preocupação com as notícias falsas (para não escrever em inglês “fake news”, porque há uma palavra em português semelhante), e há todo um clima de entusiasmo perante uma ciência que, embora não se possa apelidar de “falsa”, pelo menos as suas intenções não o são (estando de boa fé), a realidade é que essa ciência espalhada aos quatro ventos em todas as áreas,  alimentação, saúde psíquica e corporal, etc. , parece ser produto de estudos fragmentados eles mesmos por várias Universidades e dentro dessas universidades por micro-departamentos que se baseiam em micro-amostras. É com esses “resultados” que somos bombardeados diariamente no google e nos telejornais. Parecem funcionar como palavras de pequenos deuses nas quais devemos acreditar absolutamente na mesma proporção em que não acreditamos absolutamente nos astrólogos que redigem as previsões diárias para todos os signos do zodíaco. Frequentemente, esses estudos anulam-se, esquecem-se com o tempo ou são substituídos por outros apresentado resultados contraditórios. E o mesmo se passa com tudo: as convenções sucedem-se a um ritmo vertiginoso ao ponto de ser a convenção, em si, aquilo que constituí a verdade dentro dos limites de microssegundos em que ela dura. O mesmo se passa com a arte, a memória, a cultura. Para quem observa, a partir de fora, este movimento circular e fluído em torno do ralo-abismo, não deixa de ser tentador nada fazer e nada dizer. Não há nada mais falso, hoje, do que exprimir uma opinião porque aquilo que é o objeto da opinião não dura mais do que um lapso único, instantâneo e extra-limitado no tempo. E a opinião ainda dura menos. O desencanto vem daí. O encantamento tem a virtude de nos retirar do espaço em volta e do tempo. O desencanto atira-nos para o canto de uma realidade material que nos submerge. E todos os cantos dessa realidade estão preenchidos com ela mesma. O desencanto dá-nos sempre a sensação de não haver saída. Ou a única que existe é o silêncio. O abençoado silêncio, tão semelhante à tela branca ou à página por escrever. Nele se forma uma pequena plataforma de liberdade. Nesse silêncio só encontro gente simples. Mesmo simples, sem complicações, nem cultura, nem metafísica de laboratório. Entre essa gente simples e o sublime, estão todos os outros, pejados de opiniões, com uma imensa cultura, na qual navegam circularmente como peixes no aquário redondo. É nesse espectro (da simplicidade ao sublime) que dou por mim a esquivar-me como se os outros fossem obstáculos confusos. E são. São um obstáculo entre mim e o meu silêncio. Vulgarmente ditadores e absolutamente democratas nas ideias ou o inverso. A bom rigor, nada disto é para ser levado a sério. Quem se aproximou do sublime sabe da ruptura. Conhece-a diariamente e lida com ela como um artesão versátil e comprometido com a única arte que lhe é permitida: a de resistir, entrando no mundo, só em caso de necessidade e sair dele o mais depressa possível.