sábado, 5 de abril de 2025

A voz


 O Pedro mexia, de há umas semanas para cá, mudou de voz. Está mais grave. Não sei se fui só eu que notou essa alteração. Mudou o timbre. Literalmente. Se for também literariamente está possuído. Mistérios.


domingo, 9 de março de 2025

O primeiro ministro


Este primeiro ministro (com letra bem pequena), é um egocêntrico detestável. O Montenegro faz parte daquele clube de homens do Norte, que resolve tudo com almoçaradas e ainda tem a mania que é a cabeça da família. Para o quadro estar completo, só lhe falta o vinho tinto, dia sim, dia não, e bater na mulher, dia sim, dia não e, como não pode, bate no país. Alguns desses homens do Norte ainda são espertos para o negócio, mas este nem isso, tem cara de totó, armado em chefe de família e quando entra em delírio, pensa que é chefe do país também. Já não há ninguém. Até há! Eu. Rainha da Portugal, eleita pelos meus alunos. O que me ri com eles! Não ficava nada de pé. Excepto a alma do país. Bastante acessa, mesmo. 
 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O eterno presente

 


Estas fotos provindas da intimidade da matéria e publicadas em livros sobre a teoria do caos revelam a capacidade de variação dos temas como se estes fossem música. Entendemos que a música varie, que o artista varie, que o escritor varie, que o ator varie. Se a pessoa varia e não for só de penteado, já não entendemos nada.  Isto porque não nos vemos como fazedores da obra de arte que somos. Falo por mim que não capto as almas como se fossem possíveis de fotografar. Se alguém varia muito fico estupefacta. Essa variação deve de ser demonstrada como as imagens da intimidade da matéria, passo a passo e com a maior racionalidade possível. Já quando as pessoas são atravessadas por espíritos e dizem coisas, então, a minha benevolência provinda do eterno presente, permite uma maior compreensão da variação. Tenho assistido, por vezes, ao atravessamento das pessoas e nunca sei se sou eu que as estou a atravessar ou se é outra entidade qualquer. Já me aconteceu uma coisa estranha que não é uma coisa nem outra. Entrei num café e a senhora que estava do outro lado do balcão olhou para mim branca e disse-me que se tinha visto a ela própria a entrar no café. Tinha tido a visão dela própria em mim. Disse-lhe que não éramos parecidas fisicamente e ri-me (ela era mais alta, mais anafada e tinha cabelos louros, coisa que não tenho) e ela continuava, branca, a olhar para mim e a dizer que se tinha visto em mim. Teve de ser outra senhora que estava atrás do balcão a acalma-la, dizendo-lhe que não estava boa da cabeça. Invisível, já me tinha sentido muitas vezes, mas um espelho, foi a primeira vez. Isto para dizer que até a questão da identidade pode ser um pouco difusa e confusa,  Mas há-de haver algo em nós que pertence ao eterno presente e algo em nós que entre no reino do reconhecimento para lá da matéria que nos cerca. Até para lá da intimidade da matéria que nos cerca. E, de facto há. Por foi por isso que já encontrei quem pertencesse ao reino da liberdade. Do conhecimento e da liberdade. Das duas coisas. A ideia que me dá é que viemos doutro sítio. No meu caso, desse reino. E que é eterno e se mantém independentemente das variações, permitindo, no entanto as variações, mas estando acima delas. Tenho saudades desse reino mesmo sabendo que ele está em mim. E que bom que seria fazer descê-lo à terra, penso, por vezes. No entanto também intuo que há outros reinos, diferentes. Provavelmente, há pessoas que vieram deles, sem saber que deles vieram. Gosto do meu. É todo respirável, mas só conhecido por gente como nós. 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

A iteligência emocional


 Os músicos de música clássica parecem ser ainda dos poucos que conservam alguma coisa de clássico, de antigo. Todas as outras artes, até mesmo a ópera, com as novas cenografias de bradar aos céus, trazem incrustada esta contemporaneidade atroz. Dou por mim a respirar com esses músicos. Fiz um teste elaborado por psicólogos, esses génios da mente que explicam tudo, para ver se tinha alguma inteligência emocional. Tal como previa, não tenho quase nenhuma porque esse tipo de inteligência está catalogada como uma espécie de diálogo entre o sujeito e a sociedade. Diz essa teoria dessa inteligência que os testes podem revelar o auto-conhecimento e o grau de socialização que temos. Ao nível do auto-conhecimento nunca poderia ir muito longe nesse teste porque continuo a sentir-me um mistério. Um mistério mesmo divino porque isto de se existir,  de se estar vivo, contém algo que nos ultrapassa. Continuo exactamente igual ao que era na adolescência, sempre num limiar angustiante de uma enorme imensidão que me chama e, em simultâneo me diz que essa imensidão é demasiado grande para mim. Basta olhar para as estrelas, coisa que nem o teste nem os teóricos da teoria da inteligência emocional fazem. Relativamente aos outros, à parte social, eles fazem parte desse mesmo mistério que não conheço e, quando conheço, fazem demasiado barulho e estragam a sinfonia das estrelas com os seus gritos, desesperos e alegrias, a maior parte delas ilusórias. Poder-se-á pensar que é falta de empatia. E é. Não consigo ter empatia por tudo. Consigo, por outro lado, ter impulsos, fortes e inexplicáveis, de ajudar quando vejo situações à minha frente que requerem ajuda e algum sangue frio. Mas aquela empatia que me leva a sorrir para a humanidade inteira com se esta fosse o recém-nascido mais puro e inocente do mundo, e acolher com abraços, paz e amor qualquer pessoa que se me apresente pela frente, não. Não sacrifico a minha inteligência à minha possível inteligência emocional. A inteligência emocional está hoje na moda e torna-se facilmente sinónimo de grandes massas que partilham os mesmo valores e ideias, quer à esquerda, quer à direita. Acredito profundamente que os extremistas tenham uma grande inteligência emocional por acreditarem que as suas ideias são a panaceia universal. Podemos dizer que o mundo está farto e cheio, neste momento, de inteligência emocional. O Ventura gosta da coelhinha, e os de extrema esquerda adoram tratar o ser humano como se fosse um animal de estimação que agita a cauda a cada defesa da minoria que cada um é. São todos mestres em inteligência emocional e vão cada vez mais dirigir o mundo pelas emoções, pelas ações e reações emotivas, mas sem um pingo de inteligência dita normal. O sentimentalismo de mais baixo nível invade todos os recantos obscuros do planeta, mas como alguém disse, não basta. Basta até muito pouco quando é só isso. Se não nos cai um lágrima sempre que a Greta, protótipo do sentimentalismo mais cru - além disso pertence à minoria (será minoria?) das pessoas com síndrome de Asperger, somos abomináveis homens das neves e causamos terror na imensa floresta LGBT e não sei que mais e se não acharmos, nem de perto, nem de longe que o Salazar tenho sido um grande homem, somos o abominável homem das neves na mesma, causando terror na floresta das mulheres recatadas. De maneira que a minha inteligência emocional é quase nula, ao ponto de já ter pensado em fazer uma marcha de orgulho não emocional com uma bandeira cor de rosa, azul e com as cores do arco-íris no meio, para ver se ganho mais apoiantes da causa. A minha ausência de inteligência emocional, diz-me, pela intuição, que já não há desculpa, (depois de tanta informação disponível e de tanta história que há para recordar) para tanta inteligência manhosa emocional, de maneira que me remeto ao pensamento do “chato” do tradicionalista René Guenón que pensava que a psicologia tentava adaptar as pessoas a um mundo torto e guardo uma restiazinha, que é o suficiente de alguma inteligência que possa ter daquela emocional para situações em que as pessoas necessitem efetivamente da minha ajuda e à minha frente, não assinando petições nem votando sempre que me mandam. Porque, bem vistas as coisas, quanto mais parte fizermos das massas mais a humanidade se torna numa massa acéfala e alimentamos o bicho para onde quer que este vá. Normalmente vai para o abismo. A minha anarquia monárquica intrínseca ama demasiado a Vida, percebe demasiado que há um Mistério e respeita em demasia a Acção verdadeira para que vá em cantigas brejeiras. Dou por mim a respirar quando ouço música clássica como se estivesse finalmente fora do aquário pantanoso, e o peixe que envergo (só para sorrir e não causar mossa a ninguém) se transformasse em asas. Daquelas clássicas, com penas e tudo. Penas em todos os sentidos, evidentemente, porque tenho uma grande inteligência simbólica. Graças a Deus!

domingo, 29 de dezembro de 2024

Bom Ano, meus amigos


 

Meus amigos:

 

Dizem os astrólogos que o próximo ano, em termos mundiais, não vai ser bom. Também o Guru indiano, Sadhguru informa que nos próximos seis anos, a actividade solar (cujos ciclos são de aproximadamente 11 anos) com os seus ventos, tempestades e erupções vai estar em alta e, atendendo ao facto dessa atividade ter efeitos em tudo o que não se vê como, por exemplo, o campo magnético da terra, a radiação ultra-violeta ou a emissão de raios-X e podendo danificar redes de energia e satélites, é natural que afecte igualmente toda aquela parte subtil do ser humano que embora não seja vista, existe e pode ter repercussões na saúde física e mental das pessoas. Bem vistas as coisas, nem é necessário que hajam avisos de astrólogos ou de gurus indianos, está à vista desarmada, o rumo que o planeta se propôs tomar e, desta forma, o nosso desejo para vós, meus amigos, é que protejam aquilo que ainda é humano. Como o bicho da seda, façam um casulo e enfiem-se lá dentro pois outra forma não há de sobreviver às tempestades solares e humanas. Lembro-me de me terem contado que, por altura do 25 de Abril, houve neste país uma grande confusão com ataques terroristas e tudo e que ao ver aquilo que se passava, Agostinho da Silva telefonou a Dalila Pereira da Costa e disse-lhe para não sair de casa enquanto a confusão não passasse. Pois agora passa-se o mesmo, só que é uma confusão que já começou há alguns anos com lideres mundiais tresloucados, magnatas e oligarcas, não menos tresloucados a comadarem o destino de mundo. Ora estando a nossa parte subtil exposta às tempestades solares e a nossa parte menos subtil exposta a essa gente, torna-se urgente a formação de uma crosta que nos proteja de todos os ataques. Imaginemo-nos como um bunker em andamento, respeitando as regras mínimas sociais, trabalhando nos trabalhos idiotas que nos dão, mas que, ao jeito do filme “Farnrenheit 451” ou do livro de Orwell “1984”, possamos formar, individualmente, uma resistência digna de ser contada mais tarde. De vez em quando há sinais de alguma resistência como aquela entrevista que li no outro dia feita ao realizador Denis Villeneuve (sim, o do filme “Dune”) onde explica ao jornalista por “a” mais ”b” o porquê de ter proibido os telemóveis e  de obrigar toda a equipa a ficar de pé no set de filmagens, afirmando que a “presença” humana é fundamental, quer psíquica, quer corporal, para o desenrolar da arte, neste caso a arte cinematográfica. Não sabemos onde é que ele aprendeu isto, mas está cheio de razão.  Podem vir a ocorrer pequenos sinais de pessoas que estão a contrariar a tendência crescente para a estupidificação e falta de criatividade propostas pela empresas de tecnologia. Tal como o aprendiz de feiticeiro, quando, mais tarde, estivermos reféns de algo que já não controlamos, haverá grupos e indivíduos não associados a qualquer grupo, que serão os resistentes e que guardarão a réstia do que é ser-se humano, impedindo o suicídio absoluto e colectivo a que assistimos. Assim, meus amigos, se quiserem fazer parte desses que vão guardar alguma forma de humanidade,  estão convidados a treinar dentro do vosso casulo, a vossa própria liberdade porque é dentro de vós, e não fora de vós (cada vez mais) que ela se encontra. Para isso, escolham livros e prefiram-nos às redes sociais ou às informações algoritomizadas e militarizadas, desenvolvam trabalhos manuais, fujam, sempre que possível, para a Natureza que resta, impermeabilizem-se para que a chuva fertilizante do “Reino da Estupidez” (lembrando o admirável título de uma obra satírica de Jorge de Sena) não vos atinja e pensem pelas vossas próprias cabeças, unindo, se possível, a razão e o coração, a par com a criatividade pura, a mesma que tínhamos em criança. São esses os grãos de mostarda, o berço de palha de Moisés, ou a arca de Fernando Pessoa, todos residentes na mão da Santa Providência, a maior e mais virtuosa presença de Deus. Só desta forma vos podemos desejar um bom Ano Novo, pois só dessa forma ficamos bem com a nossa consciência sem embarcar em fantasias histriónicas e fogos tão artificiais como a inteligência moderna. Desejar um Bom Ano, não é uma fezada, nem um desejo tolo de adolescente de que a sua equipa ganhe o campeonato, é antes uma refeição completa, como um bacalhau com todos: inclui o propósito do que andamos cá a fazer, a noção do que é o ser humano, a consciência do desenvolvimento das suas capacidades (e não das máquinas) e o respeito pela Natureza. Sem isto, o Bom Ano são palavras atiradas para o ar. A única forma de o desejar é acrescentar a palavra resistência e o que esta implica. Sem resistência nunca haverá nem descendência dessa resistência nem ascensão. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Hoje

 


"Sentir tudo de todas as maneiras,

Viver tudo de todos os lados,

Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,

Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos

Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo. [...] /

E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente."

«Passagem das Horas». Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 26b.

E assim acontecendo, em fragmentos somos compreendidos pelos fragmentos que outros são. Se deixas acontecer a voz da verdade,  a falsa aparência trémula, luz de vela ténue e insegura, ilumina, indiferente toda a sorte da unidade que és, como um comboio lento atravessando a paisagem, fotografias sucedendo-se, diálogos suspensos a meio. "Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis" é o momento que não ousam nem ver, quanto mais acontecer! Se existisses hoje, neste lugar, Fernando, serias crucificado de todas as maneiras: ladrão e filho directo de Deus, ao alto e na diagonal e não haveria religião que te sustentasse! Eis o caminho!

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Tocha

 




Isto de andar com uma tocha antiga na mão para iluminar o caminho, por vezes, torna-se desconfortável pois sem querer acabamos por incendiar os corações e as consciências das pessoas à nossa volta. Somos uma espécie de espalha brasas que tentando a todo o custo não dar muito nas vistas, logo sai tudo ao contrário porque ao caminhar nas trevas com uma tocha na mão, nada mais dá nas vistas. E perguntamos que outra forma há senão a de iluminar o caminho com a nossa luz. É que não há mais nenhuma. E isso irrita as pessoas ao nosso redor. As inseguranças, as invejas e os medos profundos emergem imediatamente do caos absoluto em que se encontram. O nosso silêncio tumular é uma impressão digital que deixamos na história sobre nós que não sabem contar e como que pressentindo essa ignorância logo se apressam a contar histórias, todas elas fantasistas, numa espécie de superstição improvisada, mas suficientemente anafada para lhes preencher o ego que assim se acha sábio. Por vezes tenho que lidar com pessoas assim, mais mulheres do que homens, porque nada incomoda mais uma mulher do que uma mulher calada. Alguns homens também caem na superstição imediata, mas são mais raros. E, essas mulheres, que outra coisa não são senão mulherzinhas, são tagarelas, opinativas, chatas como tudo e simplesmente ignorantes. O caos rodeando estes seres é total, pois embrenhadas que estão nas coisas práticas da vida, a dimensão do sonho, da poesia e até, em último grau do Amor, escapa-lhes. São verdadeiros soldados romanos, adensando um exército sem fim e tendo nós um nome grego, dificilmente achamos graça a tanto belicismo, vivendo mais no mundo das ideias e dando-lhes o devido valor. Sempre que somos lancetados por lanças atiradas em forma de histeria disfarçada de disciplina, estas não chegam a doer, mas causam incómodo como moscas rodeando a cabeça, daquelas de Outono que parecem loucas por se reproduzirem.  Adensa-se ainda mais o silêncio como forma de recuperação do incómodo e, por isso, a irritação externa aumenta ainda mais, tomando a dimensão de um monstro gigantesco com várias cabeças. Às tantas torna-se desproporcional a medida de ambas as partes. A irritação é em demasia e o silêncio também. É nessas alturas que aterramos e iniciamos as palestras sobre as coisas práticas da vida com uma ironia fina interior e imperceptível pelos semelhantes. Normalmente resolve-se assim. Acalmam-se os bichos, a vida sem Mistério é muito mais confortável para eles e a sua condição de inaptidão para a demanda é reinstalada e legitimada por conversas triviais e repetitivas. Parece a tortura da gota de água do chinês. Peço imensa desculpa, mas demandar é uma forma de criar. Quando não estamos a fazê-lo, estamos a tapar buracos e a deitar água sobre a tocha que nos ilumina o caminho. Não há nada mais anti-higienico do que falar sistematicamente da higiene da casa. Não há nada mais anti-higienico do que não  criar. Fica tudo um caos, uma porcaria.