domingo, 20 de abril de 2025
Os homens de negócios
sábado, 19 de abril de 2025
A luz
Diz a História da China que quando o ambiente na cidade ficava caótico, os sábios subiam a montanha e lá no cimo se refugiavam. Nem é necessário ser sábio para ter a mesma reação nestes dias correntes, pois o "mundano" está tão confuso e impossível de se aguentar que basta ter uma inteligência razoável para o fazer. Discorrer sobre o estado do mundo ou escrever poesia é a mesmíssima coisa em termos de efeitos. Nunca pensei que iria viver num mundo distópico onde tudo espelha tudo. Isto parece uma espécie de prisão onde só o silêncio cortante guarda o oxigénio necessário para se viver. Nem sei o que dirão os historiadores do futuro, isto é, se existirem historiadores no futuro pois em breve será muito natural dar a História como extinta, como se esta fosse um animal que não se adaptou. Qualquer dia sai um decreto-lei a extingui-la por não servir para nada, nem dar lucro. Muito não se falará no futuro deste presente, até porque não há nada para dizer. O presente é uma espécie de droga psicadélica. Eu não preciso dessa droga. Agora a nova modalidade é estar com os olhos bem abertos na escuridão e ver as imagens psicadélicas a passar com as suas cores fosforescentes. Elas passam, e fico a vê-las como espectadora passiva. Não me assustam nem me distraiem, ficam para ali a passar e depois desaparecem. Igualzinho a este mundo. Mais berrante, mas igualmente alucinante . No futuro já sei que vou esquecer estes episódios psicadélicos que não faço ideia porque é que me acontecem. Chego a suspeitar que é apenas uma forma de sintonia com a contemporaneidade e nada mais. É que nem lições advêm dessas imagens, tal e qual o que se passa com o mundo.
Estou a escrever só porque tenho insónias. São duas e vinte e cinco da manhã e o vento resolveu levantar-se em rajadas. Elas levam-me a virar a cabeça para a janela e dou por mim a falar com o vento como se fosse uma pessoa: "O que é que queres?" E o vento responde: "Nada". Pois é natural, é só vento. Também o vento me diz que é apenas o espelho de um outro vento, que por sua vez espelha outro. O mais parecido com a época actual é um redemoinho. Não há lógica num redemoinho, nem tempo para o medir e torná-lo aceitável mentalmente. É um pedacinho de ar que se levanta e nos leva a dar voltas muito rápidas. É como ser enrolado por uma onda. Já fui enrolada por várias ondas e lembro-me da sensação estranha de não perceber onde era o alto e o baixo. A desorientação era total. Igualzinho aos tempos de hoje. Por isso, não me perguntem nada neste momento, estou em pleno redemoinho, enrolada numa onda. Não há nada para dizer, nem opinar, nem esperar sequer. Tornou-se tudo de plástico. De plástico plastificado, ou não fosse um espelho. As imagens psicadélicas são espelhos e nada mais. Vou aterrar no cimo da montanha e guardar o segredo da História. A História não serve para nada, nem dá lucro, mas é um segredo. Agora, mal escrevi a palavra História, começou a chover. Como dizia Pessoa, chove lá fora, mas cá dentro acendeu-se uma luz. Quem só vê o profano, não vê o sagrado. Esquece-se da luz.
sábado, 5 de abril de 2025
A voz
O Pedro mexia, de há umas semanas para cá, mudou de voz. Está mais grave. Não sei se fui só eu que notou essa alteração. Mudou o timbre. Literalmente. Se for também literariamente está possuído. Mistérios.
domingo, 9 de março de 2025
O primeiro ministro
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
O eterno presente
Estas fotos provindas da intimidade da matéria e publicadas em livros sobre a teoria do caos revelam a capacidade de variação dos temas como se estes fossem música. Entendemos que a música varie, que o artista varie, que o escritor varie, que o ator varie. Se a pessoa varia e não for só de penteado, já não entendemos nada. Isto porque não nos vemos como fazedores da obra de arte que somos. Falo por mim que não capto as almas como se fossem possíveis de fotografar. Se alguém varia muito fico estupefacta. Essa variação deve de ser demonstrada como as imagens da intimidade da matéria, passo a passo e com a maior racionalidade possível. Já quando as pessoas são atravessadas por espíritos e dizem coisas, então, a minha benevolência provinda do eterno presente, permite uma maior compreensão da variação. Tenho assistido, por vezes, ao atravessamento das pessoas e nunca sei se sou eu que as estou a atravessar ou se é outra entidade qualquer. Já me aconteceu uma coisa estranha que não é uma coisa nem outra. Entrei num café e a senhora que estava do outro lado do balcão olhou para mim branca e disse-me que se tinha visto a ela própria a entrar no café. Tinha tido a visão dela própria em mim. Disse-lhe que não éramos parecidas fisicamente e ri-me (ela era mais alta, mais anafada e tinha cabelos louros, coisa que não tenho) e ela continuava, branca, a olhar para mim e a dizer que se tinha visto em mim. Teve de ser outra senhora que estava atrás do balcão a acalma-la, dizendo-lhe que não estava boa da cabeça. Invisível, já me tinha sentido muitas vezes, mas um espelho, foi a primeira vez. Isto para dizer que até a questão da identidade pode ser um pouco difusa e confusa, Mas há-de haver algo em nós que pertence ao eterno presente e algo em nós que entre no reino do reconhecimento para lá da matéria que nos cerca. Até para lá da intimidade da matéria que nos cerca. E, de facto há. Por foi por isso que já encontrei quem pertencesse ao reino da liberdade. Do conhecimento e da liberdade. Das duas coisas. A ideia que me dá é que viemos doutro sítio. No meu caso, desse reino. E que é eterno e se mantém independentemente das variações, permitindo, no entanto as variações, mas estando acima delas. Tenho saudades desse reino mesmo sabendo que ele está em mim. E que bom que seria fazer descê-lo à terra, penso, por vezes. No entanto também intuo que há outros reinos, diferentes. Provavelmente, há pessoas que vieram deles, sem saber que deles vieram. Gosto do meu. É todo respirável, mas só conhecido por gente como nós.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
A iteligência emocional
Os músicos de música clássica parecem ser ainda dos poucos que conservam alguma coisa de clássico, de antigo. Todas as outras artes, até mesmo a ópera, com as novas cenografias de bradar aos céus, trazem incrustada esta contemporaneidade atroz. Dou por mim a respirar com esses músicos. Fiz um teste elaborado por psicólogos, esses génios da mente que explicam tudo, para ver se tinha alguma inteligência emocional. Tal como previa, não tenho quase nenhuma porque esse tipo de inteligência está catalogada como uma espécie de diálogo entre o sujeito e a sociedade. Diz essa teoria dessa inteligência que os testes podem revelar o auto-conhecimento e o grau de socialização que temos. Ao nível do auto-conhecimento nunca poderia ir muito longe nesse teste porque continuo a sentir-me um mistério. Um mistério mesmo divino porque isto de se existir, de se estar vivo, contém algo que nos ultrapassa. Continuo exactamente igual ao que era na adolescência, sempre num limiar angustiante de uma enorme imensidão que me chama e, em simultâneo me diz que essa imensidão é demasiado grande para mim. Basta olhar para as estrelas, coisa que nem o teste nem os teóricos da teoria da inteligência emocional fazem. Relativamente aos outros, à parte social, eles fazem parte desse mesmo mistério que não conheço e, quando conheço, fazem demasiado barulho e estragam a sinfonia das estrelas com os seus gritos, desesperos e alegrias, a maior parte delas ilusórias. Poder-se-á pensar que é falta de empatia. E é. Não consigo ter empatia por tudo. Consigo, por outro lado, ter impulsos, fortes e inexplicáveis, de ajudar quando vejo situações à minha frente que requerem ajuda e algum sangue frio. Mas aquela empatia que me leva a sorrir para a humanidade inteira com se esta fosse o recém-nascido mais puro e inocente do mundo, e acolher com abraços, paz e amor qualquer pessoa que se me apresente pela frente, não. Não sacrifico a minha inteligência à minha possível inteligência emocional. A inteligência emocional está hoje na moda e torna-se facilmente sinónimo de grandes massas que partilham os mesmo valores e ideias, quer à esquerda, quer à direita. Acredito profundamente que os extremistas tenham uma grande inteligência emocional por acreditarem que as suas ideias são a panaceia universal. Podemos dizer que o mundo está farto e cheio, neste momento, de inteligência emocional. O Ventura gosta da coelhinha, e os de extrema esquerda adoram tratar o ser humano como se fosse um animal de estimação que agita a cauda a cada defesa da minoria que cada um é. São todos mestres em inteligência emocional e vão cada vez mais dirigir o mundo pelas emoções, pelas ações e reações emotivas, mas sem um pingo de inteligência dita normal. O sentimentalismo de mais baixo nível invade todos os recantos obscuros do planeta, mas como alguém disse, não basta. Basta até muito pouco quando é só isso. Se não nos cai um lágrima sempre que a Greta, protótipo do sentimentalismo mais cru - além disso pertence à minoria (será minoria?) das pessoas com síndrome de Asperger, somos abomináveis homens das neves e causamos terror na imensa floresta LGBT e não sei que mais e se não acharmos, nem de perto, nem de longe que o Salazar tenho sido um grande homem, somos o abominável homem das neves na mesma, causando terror na floresta das mulheres recatadas. De maneira que a minha inteligência emocional é quase nula, ao ponto de já ter pensado em fazer uma marcha de orgulho não emocional com uma bandeira cor de rosa, azul e com as cores do arco-íris no meio, para ver se ganho mais apoiantes da causa. A minha ausência de inteligência emocional, diz-me, pela intuição, que já não há desculpa, (depois de tanta informação disponível e de tanta história que há para recordar) para tanta inteligência manhosa emocional, de maneira que me remeto ao pensamento do “chato” do tradicionalista René Guenón que pensava que a psicologia tentava adaptar as pessoas a um mundo torto e guardo uma restiazinha, que é o suficiente de alguma inteligência que possa ter daquela emocional para situações em que as pessoas necessitem efetivamente da minha ajuda e à minha frente, não assinando petições nem votando sempre que me mandam. Porque, bem vistas as coisas, quanto mais parte fizermos das massas mais a humanidade se torna numa massa acéfala e alimentamos o bicho para onde quer que este vá. Normalmente vai para o abismo. A minha anarquia monárquica intrínseca ama demasiado a Vida, percebe demasiado que há um Mistério e respeita em demasia a Acção verdadeira para que vá em cantigas brejeiras. Dou por mim a respirar quando ouço música clássica como se estivesse finalmente fora do aquário pantanoso, e o peixe que envergo (só para sorrir e não causar mossa a ninguém) se transformasse em asas. Daquelas clássicas, com penas e tudo. Penas em todos os sentidos, evidentemente, porque tenho uma grande inteligência simbólica. Graças a Deus!