domingo, 23 de março de 2014

Vigília




Foi numa igual manhã
viste o ajoelhado cavaleiro
em vigília, de neve vestido
em rubro coração e esplendoroso
 
De joelhos, o viste
dentro da escura noite
bem dentro do teu dia
Antigas velas ardiam ainda
 
Elas e ele,
Gravados na pedra
Feita de tempo
Viventes em chama
 
Em desmedidos ocidentes
Em bandeiras soltas
Em ausência de ruínas
Em memórias esperando-te
 
Elas e ele e esse templo
Em horizonte-rosa
No fundo do teu futuro
No quase mudo grito do devir
 
Escutado foi teu eco
Em cavaleiros multiplicados
Dentro de ti um deles
Trazia uma rosa ao peito
 
Quase mudo teu desejo
Ouvido em alto divino
Em sono definido
Em força-amor bem-vindo
 
Novos olhos te foram dados
Os teus e os de cavaleiro sonhado
Novas mãos, novos gestos
Teu corpo tornado escuta
 
Nem outra música erguida foi
Senão a do vivo segredo:
O que de dia adormece
É o sonho que enaltece
 
Deixas-te ir cavalgando
Aonde te levam rumos
e se desdobrados
olhas o alto e assim decides

Cavaleiro da altos instintos
Animal em homem feito
De intuições em vara d´água
tocando as esperas de secretas pedras
 
Deixas-te ir assim cavalgando
Já transformado em caminho
E se o mudo grito te desperta
já não és de parte incerta

Cavalgas a trote dançado
Sem pressa ou rotina
Escutas a viva e repetida
Alegria na espada embutida

Correm os rios e assim os vês
Como tu, esperando pelo mar
E pela caravela de olhos teus
Trazendo-te de novo ao altar

És viva memória e precisa
De um futuro de um outro tanto...
Todos se contemplam e se escutam
E trocam de lugar
 
No pano de fundo
do fundo que todos são
mais do que memória viva
são o mundo a espherar

(Cynthia Guimarães Taveira)

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