sábado, 1 de março de 2014

Véus

 

Caminho por entre véus
de seda, em tons marfim,
suaves e doces véus.
Toco-lhes em dedos de pérolas...
Véus duplos,
escondendo faces,
intrigantes mistérios.
Tocam-me eles
Nos ombros e cabelos,
desvendam em vento,
rosas bravas,
perfumes antigos...
Tocam-me ao de leve
e deixo.
Serenos, assim,
meios olhos revejo,
no desejo que não desejo.
Quando se elevam ao céu,
permitem paisagens ilimitadas,
e logo as escondem no suspiro,
vivente por entre eles.
Percorro o caminho em véus
de capas e contra-capas
em tecidos aclarados,
quase espumas do mar,
em vida própria,
em chamas no altar.
Salvam o olhar
quando se erguem
além das estrelas,
além da  vontade,
além de tudo,
salvam-no
da tragédia
de nada ser para além deles.
Caminho por entre véus
de sopro, de sal rosa,
de escondidos gestos,
de irreconhecíveis fados.
Caminho,
enquanto se dobram em vénia,
e voam em altivez...
Vou por eles,
em passos de leves sonhos,
em  breves aspirações,
dissolvidas na penumbra ultrapassada.
Caminho nessa larga imensidão,
de véus sucedidos,
suaves, de seda, e reais.
Afasto-os, afastam-se,
para outros ver,
em seres intermitentes,
em discretos saberes,
em passos de correr,
em estátuas a jazer.
Passo, de livre passo,
tão grata à cândida manhã,
véus de noites,
de visões,
em vida próspera e pródiga...
Caminham eles assim,
ao longo dos meus passos,
erguendo-me no ar,
sonhando-me,
discretamente.
São eles assim,
desvendando-me em véus de olhar,
desnudando-me em véus de saudade,
a pouco e pouco,
a cada nuvem a passar,
a cada gota a cair,
a cada arco-íris de promessa,
a cada luz vinda na volta da madrugada...
Passam em mim em danças de atenção,
em harmonias de antemão.
Passam pelo véu que sou
e o afastam,
com o doce e quente  amor,
em mim guardado.

(Cynthia Guimarães Taveira)

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