quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Àqueles




Àqueles que vivem no mundo a sentir e, ainda assim, em esforço maior, o reescrevem num sentido demonstrável pela arte. Àqueles que não negam o fogo inaparente das coisas. (Oh, mundo, que esconde outro, que emerso está ainda noutro... vagas de frio tornadas quentes...!) Àqueles que não permitem a inexactidão do templo e o demonstram no vento... (Ah, terra de loucos sem passado e cujo respirar é um terno e doce encontro entre as vinhas e o vinho já provado!).  Àqueles para os quais não há pesar, nem grilhetas capazes de os levar para onde não querem ir... e antes, muito antes do tempo existir, já davam asas a quem passava. Àqueles que permitem que o anjo desça, em nuvem, cascata, em ermitas ou violetas... àqueles cuja alma é sã no crepúsculo e o ilumina contrariando as horas... envio, daqui, donde vos vejo, a palavra desdobrada, em céu e terra tomada, sem que nada deixe ao acaso, nem a sombra, nem a voz, nem a luz, nem o ser-se assim para além de tudo.

 

(Cynthia Guimarães Taveira)

Sem comentários:

Enviar um comentário