Pítia e a estrela
Que há de tão impreciso nos teus passos que faz as flores
fixas na beira do caminho oscilarem? Que há que não sei nem adivinho, essas artes
de sol-posto que é desta praia e só desta praia de Portugal sem que outra haja?
Que há que calas e não dizes e nem
expressas, sequer, no fundo do teu olhar? Que há que não sentes sem primeiro
adivinhar?
Há o mar imenso, imenso dentro do teu olhar, dentro e fora
de ti... que altíssimo te assiste nessas cores oscilantes, nessas nobres
passagens por vidas breves? Que silêncio é esse de fragâncias e só fragâncias
que o preenchem?
Por onde escutas, nessa noite, estrela a estrela, por ti
passando... por onde vais, universo a universo por ti entrando?
Secretos tempos sem tempo... sucedendo-se no tempo rico. No
tempo rico feito demais, elaborado de mais com avesso e frente tornando-te
pítia por Cronos raptada e só por ele amada.
Que desenrolo é esse dessa imensidão de encontros
predispostos antes de tempo? De que te falam quando te falam do que vai ser,
do que pode acontecer... porque não te surpreendes já com esses passos do tempo
que vem de fora e do além? Porque não estremeces já com o que esperas.. por
esperares?
Que vozes são essas, donde vêm, para onde vão? E porque
lhes interessa o tecido que vais tecendo se nus andam e sempre andarão? Que sei
eu de ti, a não ser que vives para além de todo o artificio de tempos por mãos
humanas tecidos, tão facilmente diluídos, quando o sopro verdadeiro em ti pulsa
e em ti age na imensidão infinita desse azul feito de todos os azuis que te
surpreendeu o ser e te surpreendeu por o seres? Como dizer que a estrela
navegou no céu passando por ti primeiro?
(Cynthia Guimarães Taveira)
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