Também tu, meu irmão, me chamaste a atenção para o desconcerto do mundo anotado pela pena de Camões. Escuto a tua voz como se escutasse uma outra e só posso sorrir. E notar em quem se lança na espiral do tornado sem que note. Mais nota, menos nota e lá vão, enfeitados com asas de papel numa procissão de mártires cansativos e cansados, mas cuja voz os auto-embriaga. O nervosismo não é belo e nada tem a ver com a inquietação. É composto por tiques pouco humildes e uma vontade de compensação das frustrações. A inquietação é outra coisa porque, no profundo mar agitado, a calma impera, a paz é dona de tudo. O nervosismo é feito de veias trémulas, que se agrupam e desagrupam conforme as euforias e as disforias provocadas pela importância que se julga ter, sugerindo um falso equilíbrio feito de uma benevolência demasiado esperada para ser verdadeira. A inquietação é feita de correntes fortes, hemisférios desavindos, Apocalipses, epopeias sonoras e visíveis e contradições chocantes impossíveis quase de olhar nos olhos... A seiva profunda corre na inquietação, a suas raízes afundam-se numa raiz ainda mais profunda e invisível. Apazigua-me a tua voz, meu irmão, por saberes do que falo sem falar e por dizeres tudo o que sei e que, só por isso, sei ouvir. O tornado é a imagem rarefeita da arte, e qualquer nevoeiro é mais belo do que o baço vento que se levanta. Quando os olhos baços azuis se encontram com os olhos tristes da terra, o drama do desencontro, do desconcerto, substituí o azul límpido d'outros olhos e a alegria de uma terra morena capaz de pedir perdão.
Lindo
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