O fenómeno da chamada Nova Ordem Mundial intriga-me. Há uns anos era uma teoria da conspiração terrível da qual era dito que um único governo totalitário comandava o mundo (ver a Wikipédia) e eis que, com a pandemia, para alguns esotéricos portugueses, subitamente, (deve ser da virose), se transformou numa coisa boa. Já é o terceiro a quem ouço isto (não percebi se lhe tiraram a palavra Mundial ou não). É a mesma coisa que pegarem num partido de extrema Direita ou de extrema Esquerda e dizerem que, segundo a sua interpretação, são partidos moderados. Pode ser também que seja estratégia hermenêutica de maneira a fazer desaparecer a ideia de totalitarismo do horizonte. Ou pode não ser. Como não confio nas hermenêuticas de alguns esotéricos há muito tempo, a dúvida intala-se. Talvez queiram simplesmente comunicar (os esotéricos portugueses gostam muito de comunicar), chegar às massas com as palavras que as massas utilizam. Como isto já não tem ponta por onde se lhe pegue e, olhando para o caos à minha volta (segundo Mircea Eliade, o homem, no espaço e tempo sagrados é o centro do mundo -- por isso é que olho à minha volta), há uma nomenclatura muito mais apropriada e capaz de chamar os bois pelos nomes: "Kali-Yuga", o ciclo mais pequeno e mais destrutivo de um conjunto de ciclos temporais. Mas como isso é chamar os bois pelos nomes, ninguém está interessado. Preferem entrar em hermenêuticas intrigantes sobre Novas Ordens Mundiais, nem sei bem para quê porque do caos não se livram. Evidentemente que muitos sofrem da síndrome nacional do Chico Esperto na esplanada, sentado a fazer o quatro com as pernas, de óculos escuros, com ar de quem "controla", com ar de quem "domina", de quem "sabe" tudo o que se acontece à sua volta, desde as "gajas" que passam, passando pela política mundial. Com ar de quem, se tivermos dúvidas sobre qualquer questão, são a pessoa certa a quem devemos perguntar. Na verdade, não são o centro do mundo, apenas o centro do seu próprio mundo que criaram e encontram-se no terreno do profano julgando que são chão sagrado. Qualquer pessoa, com dois dedos de testa (são muito raras), só pode denunciar o que se passa. Constatar, como crianças (atenção aqui às crianças porque estamos a falar no sentido superior da infância e não na divinização da infantilidade mórbida que tem muito a ver com a obesidade mórbida - nome fantástico para designar os cérebros e corpos em papa) que o que se passa hoje no mundo é caótico. É um caos à escala Mundial. Como é um caos, apela-se à palavra Ordem com interpretações várias mas sempre acoplada com as palavras "Nova" (da qual suspeito), e "Mundial" que se encontra absolutamente fundida, nos dias de hoje, com a palavra "globalização" que é o que sabemos. Assim, quando tentam novas hermenêuticas do conceito "Nova Ordem Mundial" esquecem-se do velho conceito indiano "Kali-Yuga" que, por ser velho, é sábio e preciso no que aponta.
E esquecem-se do diagnóstico. Correm para a putativa cura como uma manada de elefantes descontrolados, utilizando conceitos de trazer por casa que vão roubar à Net (não aos livros), só para conseguirem vender o seu peixe, que é diferente e variado (cada qual defende coisas diferentes e, relativamente à iniciação, não me parece que saibam muito bem do que estão a falar ) e que atrai público, honrarias, aplausos e admiração, crescente em número, no domínio virtual, e decrescente em número, no domínio presencial (já era assim antes da pandemia). Mas, se tivermos em conta o conceito de "iniciação virtual" e o de "iniciação efectiva", veremos que até a palavra virtualidade decaiu. O virtual deixou de ser a semente efectiva que se lança à terra para passar a ser um mundo decadente, em ciclo final, espelhado na Internet. Assim sendo, a Mania das Previsões, torna-se facilmente na Mania das Antecipações (nos telejornais, devido à americanização da língua, já não se diz "prever", diz-se "antecipar", o que são duas coisas totalmente diferentes) e os esotéricos portugueses lançam-se numa corrida (que é sempre competitiva entre eles - basta um colocar um vídeo no Facebook onde aparece a falar para os outros, logo de seguida, colocarem o seu, só um ceguinho é que não vê) em direcção a essa Nova Ordem , seja lá o que isso for. De uma coisa tenho a certeza. O nome é horrível. E, a palavra Ordem, nunca poderá ser Nova. Ela pertence à Tradição que está para além do Tempo e do Templo. Aliás, a "com - templação" é estar com o Templo, não é ser o "Templo" (aquele que é o templo é o fanático), e, nesta altura, só podemos constatar, depois de contemplar, que nos encontramos num fim de um ciclo. Os germes do seguinte estão na Iniciação efectiva. As virtualidades são recursos de emergência para uma época onde as pessoas são incapazes de chamar os bois pelos nomes. Até porque não sabem os nomes dos bois, não conhecem a sua linguagem, por mais que falem na linguagem dos pássaros, espampanante nas suas penas e colorida na internet. Essa linguagem, permanece o véu por retirar e nada tem a ver com "bocas" ou "sugestões", como muitos crêem. É superior a isso.