quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Sensibilidade e bom senso


Os intelectualmente iguais parecem sofrer do uma apoplexia que os mantém a respirar e com a sua circulação activa por entre os pares. Relativamente à sua sensibilidade e ao seu movimento geral (que é muito mais do que a simples circulação), observa-se uma paralisia ao nível da comunhão. Perante tal desfile circulatório, embora donos de uma respiração sonora, lamento o meu lugar entre pares pois, ao contrário deles, a minha respiração é inaudível, a circulação social não vai além do supermercado  enquanto a sensibilidade, por seu lado, se encontra  activa e em osmose com movimento imparável de quem percorre o seu próprio país, o que, neste caso, se mistura com Portugal. O sistemático elogio da mediocridade obriga-me pois ao convívio com os intelectualmente diferentes (e não com os intelectualmente iguais) muito por causa daquilo que nos une: factores simples como o estado do tempo, as pequenas observações sobre a actualidade (sem grandes voos, nem pretenções), o gosto por comida saborosa e por apanhar sol. O enxovalho sistemático com que os intelectualmente iguais brindam a literatura e o pensamento obriga-me ao silêncio recriminador. Num infantário, quando um adulto fala, os bebés pensam que está a palrar, e nestas escolas esotéricas e filosóficas (cujos pés se colocam em pontas para tentar chegar à literatura) supostamente para adultos, quando um bebé palra, os adultos pensam que está a falar. Onde é mais crasso o erro situa-se na contradição inferior (não no paradoxo superior). No mesmo discurso, tão depressa dizem uma coisa como outra. Se é para isso, antes situar os "pontos de vista" contraditórios em diversos personagens como o fez Fernando Pessoa cuja vida o obrigou a mudar de país, de casa e de personagens. Trindade que não encontro em ninguém intelectualmente.  igual. Até porque não estão em movimento. Apenas circulam por aí sem sensibilidade e sem bom senso.

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