OÁSIS
Um vaso é um oásis, sossegado, quieto, passivo. A
terra é um oásis quando está serena e acolhe a semente. Lá fora, no mundo, a
guerra, que é sempre uma arte falhada, consegue apenas planificar novas
ferramentas, porque as mãos, no mundo, na civilização selvagem, nunca são
suficientes. São desconhecidas no mundo selvagem e são apenas necessárias na
civilização. Quando a civilização é selvagem elas existem, mas todos os seus
encantos são desconhecidos. No mundo solidificado nunca são suficientes para partir
as pedras e dizer que se cria a partir daí. Só quando voltamos o olhar para o
mundo vegetal, como modelo, podemos começar a falar em criação. Até lá, temos
formas vazias de sentido, esferas, luas quadrangulares e pirâmides que nascem
das luas, tentando no alto vértice tocar o sol, curva de todas as curvas,
desejada por todas as rectas. A terra, os vasos, na sua curvatura, são serenos.
Lá fora, no mundo, todas as ferramentas nascem da guerra; dentro do jardim,
toda a criação nasce da paz. As palavras de fogo jorram das consciências
tranquilas dos deuses que são eternos, nada temem e geram a sorte dos homens.
Foi em paz que, no alto da montanha, esse homem do extremo ocidente viu a
semente caída na terra brotar e transformar-se numa rosa. Foi em paz que a contemplou
e que soube que a rosa era a própria montanha, com os seus caules compridos,
ora elevando-se, ora encurvando-se até aos vales, com os seus espinhos como as
pedras frias e difíceis de ultrapassar e com o seu segredo aberto lá no alto,
como um sol que acolhe o céu, uma rosa que acolhe o nosso olhar. Foi em paz
que, alguns desses homens, levaram a saudade consigo até ao cimo da montanha,
que a enterraram e a veneraram, que iniciaram o jardim e, assim, deram início
ao início de todos os inícios, a arte que nunca falha por seguir os passos das
curvas e não os passos do mundo, sólido e constrangido, ao contrário da terra,
curva, depressa tornada pó, etérea e serena. No jardim nunca há guerra, há
arte, porque lá, todas as plantas, todas as árvores e todas as flores crescem
em direcção ao sublime e não em direcção à vitória. A imortalidade dos heróis é
uma cópia pálida da dos deuses que sempre o foram, mesmo quando, esquecidos de
si, naufragaram e se refugiaram do céu nas grutas, porque se tinham esquecido
de que o céu era a sua própria casa. Um deus louco é um deus sem olimpo onde
brinca às guerras, em paz, por saber que nunca morre.
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