Visitado o mistério,
como negá-lo?
E, mais, mais ainda,
como explicá-lo,
sem que seja dando-te
a mão?
Como o alcanças
se não tiveres o
coração na boca,
e a boca no coração?
Se não tiveres as
veias-seiva,
salientes de emoção?
Se não pontapeares as
pedras
no caminho que não
escolhes?
Se não te inflamas
de ciúme,
de remorso,
de solidão,
de terror dela,
e da falta dela?
Se não correres?
Se não ficares em
chuva?
Se não fores tu a
incomodar o vento?
Se não tiveres a
urgência abrupta
de saber tudo perdido num ápice
e num ágape ?
Se não permitires
o não-amor?
Se não exigires igual
amor?
Se não te diluíres
num beijo?
Se não pensares por
pensares demais?
Se não chamares a
atenção
para o que os teus
olhos vêem?
Se não te desfizeres
em dor?
Se não te descobrires
na alegria?
Se não olhares os
olhos,
prolongadamente,
indo ao fundo deles?
Se não fores todo o fogo
na ponta dos dedos?
Se não sentires
a loucura que é a
saudade?
Porque a saudade é só
loucura.
Se não quiseres,
sem saberes que queres,
Um voo no infinito?
Um rasgar os céus?
Sem que o saibas
que o estás a rasgar
com a tua alegria
Encharcada em êxtase,
a abarrotar em céu?
Sem tudo isto,
como queres lá chegar?
Quando não há outro
caminho,
nem outra flor
que te possa mostrar
a agitação das
pétalas?
Sem tudo isto,
nada tenho para te
dizer
senão palavras
repetidas em livros,
paisagens das viagens,
tão nas
margens
do que poderia ser
a nave dos loucos,
atravessando o céu,
capaz de regressar
mais vivo d'outra vida.
(Cynthia Guimarães Taveira)
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