segunda-feira, 29 de março de 2021

Comentário ao texto "Os Novos Teratomas: uma análise do paganismo reconstruído à luz do pensamento de René Guénon"

 


Como é que Gilberto Lascariz, um forte opositor das religiões abraâmicas, continua a utilizar termos como Tradição Pagã ou Intuição Gnóstica? Tanto o termo “paganismo” como o “Gnosticismo” foram utilizados pelos cristãos. As paelhas de termos e de conceitos, misturam-se alegremente e quem não está preparado pela leitura atenta da obra de René Guénon (que é um todo e não apenas os livros traduzidos para português), espalha-se ao comprido ao interpretar o texto de Lascariz, “Os Novos Teratomas: uma análise do paganismo reconstruído à luz do pensamento de René Guénon”, apresentado no seu bloque pessoal (http://www.gilbertolascariz.com). No entanto, é bom saber que Lascariz se interessou pela “Crise do Mundo Moderno”, obra de René Guénon. Se ler toda a obra, terá surpresas, sobretudo se largar definitivamente termos como “pagão” ou “gnose” que, nos dias que correm (e já antes dos dias que correm), dão origem a uma enorme confusão, isto se o intuito de Lascariz for mesmo o de alertar para o “politicamente correcto”, para o “multiculturalismo” e para os movimentos das minorias marginais das políticas pós-marxistas. Termos como “paganismo” ou “gnosticismo”, pela confusão que suscitam, são um manjar, não dos deuses, mas dos homens. Para quem é politicamente correcto na sua defesa do multiculturalismo e dos movimentos das minorias marginais das políticas pós-marxistas o termo “paganismo”, serve o multiculturalismo e o termo “gnosticismo” serve o politicamente correcto, vejamos, por exemplo, a ideia cristã segundo a qual há uma transição em qualidade, um melhoramento, uma evolução, do Antigo para o Novo Testamento. Este é o exemplo máximo daquilo a que chamo os “ditadores tolerantes”, uma tolerância que esconde a pior das intolerâncias, a tal agressividade passiva com base na ideia de que houve acesso a mais conhecimento, tão gnóstica… esta ideia. Mas o termo “gnóstico”, provindo do grego, remete para alguém ou para algo capaz de conhecer e daí que dê para tudo. Serve a todos, outra coisa não se espera numa época sem elite. Bem vistas as coisas, qualquer pessoa pode ser capaz de conhecer, mas poucas abandonaram o termo gnóstico, porque quando isso acontece, então sim, temos elite. Poderei dizer que este texto de Lascariz é uma leitura com duas lentes sobrepostas: uma, à luz do pensamento de René Guénon e outra, à luz de termos induzidos pelo cristianismo quando utiliza termos de substituição pelos termos de Guénon. Creio que não são necessárias tantas dioptrias, uma basta. Também a mim já me aconteceu perder uma dioptria. Literalmente. E agora vejo melhor.


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