Com o tempo, aprendemos a ouvir vozes que dizem, sobre a escrita de Pessoa, que esta é racional, quase fria. E isto por tantas vezes, ter o poeta dado a entender: "Sentir? Sinta quem lê". E os leitores preferem obedecer, e sentir por ele e tentar descortinar quem ele era, o que sentia, do que gostava, de quem gostava, como viveu. Mas nada nos diz que lhe tenhamos que obedecer. E nada nos diz, a nós, particularmente, para o visitar nos cafés ou num dos seus quartos, ou no escritório onde trabalhou. E quando deixamos de sentir por ele, em acto de pura liberdade desobediente, então percebemos que as suas palavras não têm a fria tonalidade da razão. Elas são brasa. Ferros em brasa que nos marcam e nos distinguem para sempre. Os seus versos, colam-se à pele. E mais do que o velho "reconhecimento" nele do que já pensámos, mais do que a reminiscência, quase platónica, que é o encontro com a sua poesia, é essa carga, profundamente espiritual, em brasa que, em último grau nos leva a viver as suas palavras no futuro. A vivê-las em vida. Vida colada a nós, como um sopro que desce e nos encaminha os passos nas trevas e em liberdade profunda que aquela que está sempre de acordo com o Espírito. De frio e racional apenas, este acontecimento, nada tem.
Bravo!!!
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