Não me trazem as ondas do mar, o teu sabor. O sal desta vida é demasiado intenso e apaga os perfumes outros que reservas em ti. Longe vão esses caminhos sem fronteiras, sem donos, esse espaço sem fim, essa curva no tempo tão imensamente esvoaçante. Todas as partes do corpo parecem sentir a Saudade. Procuramos novas do nosso amigo que é outro tempo e outra luz. Saudade, sempre com o seu manto longo, arrastando os nossos seres, olhando sempre mais além, sem que consigamos adivinhar-lhe o rosto. Só a sentimos, agitada, tomando-nos, elevando-nos, e largando-nos com suavidade neste mundo frio. A tristeza cai como uma noite imprevista. Somos selos e fomos selados pela Saudade. Não há segredo mais bem guardado e mais exposto do que o de a sentir em volta de nós, respirando, sorrindo, chamando. Se a sentimos viva é diáfana, se a sentimos morrer, é este frio do mundo tomando o seu lugar. Não alcançamos o seu percurso pelas estrelas neste mar de cristalinas rochas. Que lugar é esse, nela, no seu seu seio, bem no centro dela, animando-a para que nos anime e ela animando-nos para que não a esqueçamos. Que lugar este, para além dos limites do mundo agreste e frio, onde nos encanta com o seu mistério feito do mistério de todas as coisas? Que centro de nós atinge, que centro nela nos acolhe? Vem vê-la com o seu longo manto, com os seus cabelos em cascata e segue-a com o olhar em direcção ao futuro que é só dela. Adivinha-lhe os gestos e nos sonhos coloca-lhe uma grinalda de flores e ouro. E nos sonhos dança com ela, pela noite triste e imprevisível, até ser dia. Até ser o Dia. Faz tudo isto enquanto percorres essa noite fria e cala essa viagem e oculta essa dança ainda que o teu coração transborde dela, e seja ferida aberta e que não seja outra coisa. Não durmas, dança e transforma o teu silêncio num brilho no olhar. Por ela, estás desperto.
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Por ela
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