terça-feira, 1 de abril de 2014

Os moinhos e o vento



"Lutar com moinhos de vento" tornou-se, desde então, em todas as línguas ocidentais, o paradigma da luta inútil. Não importa ao protagonista, entretanto, que ela se apresente inútil, se a entende como necessária para o seu desejo e, portanto, necessária para o mundo.”
                                                                                                                                       Gustavo Bernardo     

 
Dizendo quase tudo, esta citação remete-nos inevitavelmente para a Ibéria e para a complexidade que esta é. Por um lado, os  moinhos de vento, transformados em inimigos... por via da imaginação, mas uma imaginação que é altamente dúbia pois nos trilhos enviesados do teatro do mundo o que parece não é e, ao mesmo tempo, o que parece pode parecer o que é. Se ligarmos esta ideia com a ideia de um moinho, e da forma como ele é visto, na outra parte da Ibéria, de nome Portugal, veremos que, aí, o que parece é, e um moinho de vento é onde tradicionalmente era feita a farinha com a qual se faz o pão. Aplicado o conceito quixotesco daria qualquer coisa como: lutar contra o pão, ou seja, contra tudo o que ele, dentro da nossa área cultural,  pode significar...
Há um lado prático português que de tão prático que é torna-se ele próprio ritual. Da mesma forma que a fantasia espanhola pode tornar-se numa realidade dura na concretização.
Os moinhos portugueses na sua doçura escondem vidas duras...
Os moinhos portugueses significam pão.
Mas a parábola espanhola não é de todo errada sob o ponto de vista místico. Há batalhas invisíveis que se travam. Talvez a maior parte delas sejam mesmo invisíveis.
É entre estes universos, verdadeiramente paralelos, nos quais o símbolo não é coisa morta ou inexistente, que se movem as acções humanas... sobretudo as acções, mais até do que os pensamentos, embora estes sejam, quando há retorno deles no mundo, matéria prima para a acção ou a não acção voluntárias. E quando há retorno deles no mundo, normalmente, há uma incitação à escolha. Depende dos moinhos de vento. E, é claro, depende do vento.

 
(Cynthia Guimarães Taveira)

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