Ah, ladrões de sonhos
De vigilância atenta
E tépida no flamejar
Ladrões que brigam
Com as palavras
E se obrigam ao entardecer
A subir telhados retalhados
E a roubar recados
De corações a arder
Ah, Ladrões de sonhos
De sacola a tiracolo
E máscaras deslavadas
aprisionando nelas
o desejo dos sonhos
Que não sabem ter
Ah, ladrões de sonhos
Que engolem martírios
E delírios intemporais
Nas masmorras dos mitos
Por entre as grades
Dos aventurados e aflitos
Na vertente sombria
Que acerca o ser
Ah, ladrões de sonhos
Que das eras tudo levaramE dos poemas nada restaram
E cujas vozes nada encantaram
E dos primatas embalsamaram
O lado de fora dos sonhos
Que não puderam ter
Por detrás da porta
Na escuridão lúgubre e triste
No centro do labirinto agreste
Uma palavra subsiste
Seguida à invasão do ser
Maís do que a mágoa que atordoa
Mais do que a sorte que não perdoa
Inscrita nos versos de Pessoa
Há a palavra Mais transbordando o ser.
(Cynthia Guimarães Taveira)
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