sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Histórias nulas



Existirão histórias nulas? Existirão histórias que já nascem sem existir, histórias que não são histórias, histórias que nem se chegam a contar ou que se chegassem não seriam histórias sequer? Ou serão essas histórias, por serem a antítese da História produto directo do Espírito, como se este não tivesse sequer necessidade de se desenrolar no tempo. Diz Fernando Pessoa que um ritual são símbolos em movimento. E quando esse movimento não existe? Se a História é tempo, se um ritual é a tentativa da ausência de tempo, então, no momento parado do conjunto de símbolos há mais do que um não tempo. Há uma evidência do Espírito. Sempre me fez confusão o mestrado dado a Alberto Caeiro como se alguma coisa me escapasse... as coisas são como são. Só? Apenas...  e o mais estranho é que nessa História nula, as coisas são como são, e isso, pela presença sublime do Espírito é difícil de reconhecer. Só mais tarde, como um eco, uma memória mais saliente, essa História nula repõe os elementos que não a compõe no devido lugar. E nesse momento o Espírito volta a manifestar-se, porque sempre esteve lá, nessa ausência de História e de um para aquém de um não-tempo e, provavelmente, tem ainda mais sentido do que qualquer história que exista, de facto, ou pelo menos, um sentido imediato.


(Cynthia Guimarães Taveira)

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