sábado, 20 de setembro de 2014

Incorreção




Ainda que tudo seja falso,
há nos olhos inseguros,
a exigência da exposição
de tudo menos dos nossos segredos
Ainda que vacilemos
na humanidade que somos,
e duvidemos
e questionemos sem fim
e estremeçamos
e que não saibamos....
Ainda que sonhemos
sonhos de longe,
e de tão longe assim vistos,
que não possam ser sonhados,
e memórias vacilantes,
que de tão presentes
não possam ser memórias
mas presentes em verdade.

Ainda que revelemos
olhares de orações,
ainda que se caminhe
com a graça
de uma coreografia sagrada...

Ainda que despejemos pelo dia
todos os símbolos
de todos os Graal
ensinados nas noites
inesperadas...

Ainda que avistemos
a terra como mistério,
o mar como segredo,
a vida como amor,
a flor como revelação,
as cores como ideias,
os caminhos como reais,
a luz como fim dissolvente
de intuições não pedidas...
 
Ainda que os nossos ossos
se reduzam a pó
face à grandeza da carne...
E que a carne se petrifique
face à grandeza da alma...
E que a alma se evapore
num sopro de Espírito...

Ainda assim
há sempre o ilimitado
em limitado disfarçado,
caricatura gasta da História
levando-nos a um caminhar sereno,
corrector mundo,
na ilusão limitada
que no limitado
se corrigiu e ascendeu.
(Cynthia Guimarães Taveira)

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