Era no que não vias, no que nem suspeitavas que te poderia
dizer o segredo. Como se houvessem segredos quando deixassem de haver alusões,
pressentimentos, ou ideias. Era na nudez completa da tua ignorância de todas as
coisas, excepto de ti, como se fosses apenas factos acumulados e sensações
várias ao longo dos factos que eras que, sentada nessa praia, te poderia dizer,
a palavra simples, a palavra azul de mar. Que poderias ser o azul do mar, e o
barco, e o tripulante, e o capitão, e as estrelas e o infinito... porque o mar,
consegue, mas só perante a tua nudez, ser o que não vês, nem suspeitas,
indiviso no seu mistério, altivo na sua exigência, transmutador da tua
essência, abrindo-te todas as moléculas do corpo ao infinito. Antes de haver
segredo, deverias saber que há segredo... mas sabê-lo, não é lê-lo, nem dizê-lo, é sê-lo.
(Cynthia Guimarães Taveira)
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