Há como que um espaço no tempo,
pequeno como um segredo,
um sítio que contém
a resolução no apropriado templo.
Ainda que viva no tempo,
é fora dele que vislumbra,
o momento do acrescento da verdade
a um certo engano que perdura.
É como um coração que bate,
nos escombros da desventura,
só aquele que o mesmo sonda,
aguarda no templo a investidura.
Há como que um pilar,
que não oscila, nem permite,
que as voltas do tempo ditem
nem uma, nem toda história escrita.
Dizem-nos que o destino se estende,
como janelas abertas
por inquilinos,
de meia em meia hora acordam,
sem que nunca se saiba toda a rotina...
É como a folha verde,
a despontar ao santo sol,
o sol é certo e não desdiz
a semente pelo vento colhida.
Cruzam-se as vontades,
sem que haja vontade certa,
e há no entanto o sinal
de que essa cruz é feita.
Se atentos, mais do que alerta
formos lendo a poesia,
num lânguido canapé,
escuta-se a melodia antes do canto...
Se se sai do quotidiano dia
num ligeiro voo imprevisto,
inscreve-se o desabafo
que o vento teve em solo fixo.
Limita-te a ficar, então,
de braços cruzados assistindo
ao fátuo e farto sabor do tempoque num certo instante ,em deslize,
se descai e diz: “de mim não sei, e nem existo.”
(Cynthia Guimarães Taveira)
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