quarta-feira, 14 de agosto de 2019

No segredo dos deuses


A minha mãe sempre me disse que os burgueses gostavam de ter um artista de estimação.
Dantes, aos burgueses, por via do seu desejo de ascensão social à aristocracia, isso dava-lhes para o mecenato.
Com a queda da aristocracia, a esses mesmos burgueses de hoje, dá-lhes para nem sequer saberem reconhecer o que é um artista. A sua aristocracia são as "quotas de mercado".
O Estado, por seu lado, também quer ser burguês e, por isso, também tem os artistas que pensam ser artistas de estimação e que o são conforme as quotas e os mercados. Ao dar relevância a um artista, não se interessa por aquilo que é a arte, a cultura, a história e muito menos pela essência do que caracteriza um artista. Ao dar relevância a um artista dá relevância, ainda que o negue, à projecção do próprio Estado no mercado, nas quotas de mercado, nos "valores" de mercado. Perante isto o que existe é uma desintegração da própria sociedade. Com a queda da noção de aristocracia também os artistas, que o são de facto, caem em desgraça e sobrevivem apenas através de um balão de oxigénio que é a origem divina da sua arte que vão fazendo em segredo dos homens, que já nada sabem e no segredo dos deuses, os únicos que sabem o segredo.

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