Os impertinentes pertinentes
nem sempre são quem esperamos. Ficamos suspensos e ligeiramente ofuscados com o brilho e com a aura dos autores e depois, com olhos de ver, vê-se que são apenas impertinentes. Ter-se talento, em Portugal, e ainda por cima ser meio "esotérico", ou "místico", ou que se queira chamar, é uma mistura que não resulta. Um muro de impertinentes é imediatamente construído e ousam no fim, dizer, que temos de o derrubar. Deitam os foguetes, fazem a festa e dizem, no crepúsculo dos deuses, com um ar superior, para os telentosos irem apanhar as canas. Quando mais precisámos deles, estavam demasiado ocupados em construir muros para que a espontaneidade (que os assusta), fosse afastada de uma vez por todas. Por sorte, a impertinência pertinente está onde menos esperamos, e se o teatro não passa de teatro, então, há que escolher excelentes actores que são aqueles que "fingem a dor que deverás sentem". Há que escolher poetas da vida e não vendedores da banha da cobra daquilo que são. A diferença, entre uns e outros, reside no grau de transparência, algo que é inimaginável para o mero fingidor que nada sente. Só eles nos conduzem à sintonia, à inteligência e ao amor, capazes de verem para além dos livros, de observarem meticulosamente a nossa própria transparência. Este é um dos sustentáculos da chamada Tradição. O bando de falsos rosa-cruz que invadiram por completo áreas que não lhes pertencem nem nunca lhes pertenceram conduz, inevitavelmente, ao desastre. Fica um chiqueiro depois da festa que não há talentoso, por melhores intenções que tenha, que aguente meter as mãos naquilo. As escórias sempre foram úteis, mas as actuais são tão más e estão tão putrefactas que servem apenas como adubo para sabermos aquilo que não devemos nunca ser nem fazer, ou seja, até as escórias se tornaram na mais elementar lição que todos, sem excepção, deveriam receber na educação dada logo na primeira infância.
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