segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A mudança


  O meu irmão desde que nasceu que foi sempre de esquerda. Já eu era considerada a irmã de direita embora tivesse votado (quando voltava - larguei esse mau hábito) em todo o leque partidário ao longo dos anos, desde o PS ao CDS numa tentativa absurda de acertar (ninguém acerta,  é humanamente impossível). Ontem ele veio visitar-me. Parecia um touro, embora seja Aquário de signo (o meu ascendente). Vinha a deitar fumo pelas narinas e a raspar com o pé no chão. Zangadíssimo. Porquê? Porque causa do politicamente correcto (mal ele sabe que ando a ler um livro sobre isso). Aquela coisa dos vegans, dos defensores das causas totalitárias e totalizantes, os feminismos extrapolados, os fluídos nas "preferências" sexuais que, segundo a Novi-Esquerda, se não somos todos assim, andamos lá perto. Bufava, zangava-se como um autêntico aristocrata conservador. E ainda disse que era o povo que tinha de ser educado pela televisão e que a televisão tinha decaído no dia em que se deixou levar pelas audiências e, consequentemente, o povo também tinha decaído. Eu estava sentada numa cadeira de bambu muito bonita oferecida há muitos anos por uma amiga. E estava com cara de parva a olhar para ele. Para dentro, pensava nas discussões que tínhamos tido há muitos anos por causa das nossas diferentes perspectivas e agora via ali um proto-monárquico apelando à aristocracia intelectual e completamente farto das acusações da nova Inquisição que fala em nome do não-Deus (a outra falava em nome de Deus e ia dar no mesmo). O mundo dá, de facto, muitas voltas (é composto de mudança, não é?) e fiquei em silêncio a admirar a súbita reviravolta absolutamente genuína (e não a falsa com que tantos me quiseram enganar). As mudanças que intui e algumas que desejei parecem, algumas delas, tornarem-se realidade. Vá lá saber-se porquê. Andei quase um ano com dores nas costas e, depois de pintar o muro, pensei que o meu anjo curador já não queria saber de mim para nada. Por ter pintado o muro ao sol apanhei uma insolação, com febre e duas noites sem dormir com fortes dores nas costas. E, depois de todo aquele esforço de dois dias e da insolação, as dores nas costas desapareceram subitamente. Apraz-me saber que existem mudanças para melhor... E há tantas ainda que desejo e que intuí. São é incrivelmente surpreendentes. E fazem-me sorrir. Como o meu irmão . 

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