sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Medo do Sol



O Luís Osório é bem intencionado. Quando lhe dá para os elogios rasgados lança-se do seu porta aviões e desata a voar. Isto de voar pode calhar a todos. Andar nas nuvens e tal. Há uns anos o "sábio de Coimbra" do Facebook pelo facto de eu andar a dizer coisas dizia que eu "voava", que corria o risco de voar demais e de desaparecer no espaço. Desapareci no espaço, mas não por voar demais. Eu voo bem. Desapareci para não ter de aturar "sábios de Coimbra"... E outros armados com uma lança esotérica numa mão e um escudo de psicologia barata na outra e cujo resultado, agora visto de longe, de bem longe, em pleno espaço sideral, é hilariante. Diz Luís Osório que o desterrado Eduardo Lourenço é o maior pensador sobre Portugal. Luís, se é maior ou menor isso vem a reboque com o pódio e os números pintados por debaixo dos vencedores. Os vencedores vencem prémios, mas isso não quer dizer que não haja "perdedores" que nunca ganharam prémios com a chancela do Estado e que estes não ensinem Portugal aos portugueses. A alguns portugueses, muito poucos. A Cristina tem mais sucesso do que o Eduardo Lourenço. De que é que estava à espera nesta democracia alimentada a audiências? De um povo muito filosófico? De votações nas eleições muito conscientes? Eduardo Lourenço foi tratado como um estranho no hospital. Lá, ninguém lhe deu o devido valor, nem o reconheceu. E quantos pensadores sobre Portugal passaram a vida nisso? Pior! Nem um pequeno prémio de consolação receberam. Nem uma entrevista para a televisão. Nada. E o pior dos piores, nunca sequer foram lidos ou ouvidos. Nunca as suas palavras foram objecto de ponderação pelas "altas" personalidades do país a não ser quando se lembram de um verso de Fernando Pessoa para ser debitado num "evento" porque fica bem... Viu-se como foi tratado em vida e depois de se retirar do mundo. Lamento, Luís, mas Eduardo Lourenço não é o pai de todos nós que nos ensina o que é Portugal. Temos uma data deles, e algumas mães. Isto sem contar com o próprio povo, quando o encontramos ainda vivo e não à beira do colapso com esta democracia que elege os seus intelectuais cheios de carimbos franceses de passaporte franceses... O Eduardo Lourenço tem os seus pontos de vista, alguns dos quais discutíveis e não é com ele que aprendo Portugal. Por vezes, é nas filas das repartições públicas que aprendo. Levo um livro e espero a ler. Um livro lido por quase ninguém. Um livro sem prémios nem distinções. Mas o Luís pode voar aquilo que quiser. Andar nas nuvens a pensar que o Pai Lourenço lhe ensinou tudo sobre Portugal. É livre como um pássaro. Só não conhece é Portugal. Mas isso ninguém conhece por serem tantos os autores a ler e por serem tantos os portugueses do povo (o que resta do povo) a conhecer. Se o Luís lesse alguns outros autores, aí sim, iniciaria o seu vôo vertical e não apenas esse horizontal e rasteiro devido ao peso das medalhas. É espantoso que os jornalistas, como veículos de informação, caiam sistematicamente nas garras do Estado. Naquilo que o Estado escolhe e distingue. Como afirmou Fernando Pessoa "Portugal não é o Estado". São duas coisas distintas. O Estado devia servir Portugal. Ser subalterno. Portugal é muito mais do que o Estado. E quem pensa sobre Portugal são muitos mais do que apenas Eduardo Lourenço. São muitas pessoas absolutamente distintas entre si e do Estado. Portugal está cheio de voadores. Uns voam bem, outros junto ao chão com medo que o sol queime. Queima e ainda bem. De caldos mornos está o Inferno cheio. E Portugal.

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