sexta-feira, 9 de abril de 2021

Caos


 

Houve quem tivesse direccionado o mundo para o caos que agora atravessa. Nunca foi muito direito, mas sempre houve, aqui e ali, alguns pedaços dele que se escapavam ao caos total. Temos um belo futuro pela frente com desigualdades absolutas, entre continentes, países, classes sociais, famílias, pessoas. Nem todos terão acesso a determinados bens que se pensam ser básicos: casa, alimentação, saúde, segurança, justiça, educação. Antigamente, também não, é certo, mas agora damo-nos mais conta disso devido à globalização que só foi possível com o acesso a todos os meios tecnológicos de comunicação e aos transportes acessíveis e rápidos. Agora, o que se passa na China, passa-se aqui. Os desequilíbrios provocam mais desequilíbrios numa crescente e aparente viagem desenfreada até à desintegração. É possível que haja desintegração. A desintegração é algo que existe no próprio cosmos, na própria ordem. O desvio da natureza e da sobrenatureza e ainda de tudo o que está para além destas duas, provoca isso, inevitavelmente, porque não há sintonia entre o ser humano e tudo o que o rodeia e em simultâneo está dentro dele. Não me parece que haja outra explicação para aquilo que se assiste. É pena? É. Poderíamos ter direccionado a humanidade numa outra direcção, provavelmente mais duradoira. Poderíamos não ter de passar por cataclismos traumáticos levando até ao limite a possibilidade da extinção da espécie. Mas talvez tudo se tenha de passar exactamente assim. Talvez esta humanidade presente tenha nascido mal e tosca, incapaz de outros voos que não sejam os materialistas num constante e repetitivo processo de comprovar que "o meu sofá é melhor do que o teu", até chegar à conclusão de que isso não é o mais importante. Talvez nem chegue a essa conclusão, talvez desapareça antes disso. A grande e enorme falta desta humanidade tem um nome: "A soberba". Ao mínimo feito, envaidece-se e utiliza essa vaidade para procurar um outro feito do qual se possa envaidecer. O objectivo nem chega a ser o feito em si, apenas o da vaidade. A vaidade cega e louca, a rainha má da Branca de Neve... a primeira selfie depois do espelho de Narciso. Se Narciso morre de desgosto, a rainha má manda matar por vaidade, um outro patamar, uma outra escolha, uma outra consequência. A vaidade que nos torna assassinos de nós mesmos, sem que o saibamos. A vaidade, assassina da própria beleza. 

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