Quando começamos a incomodar os neo-contemporâneos, de todas as ordens e feitios, imediatamente chovem, nesta sociedade de esoteristas altamente misóginos, imagens de mulheres escarlate. As pobres referências que constam nos seus dossiers individuais não vão além de uns míseros séculos atrás. A pobreza masculina não se poupa a dizer, a referir, a sublinhar, a reafirmar e a citar a velha frase tornada batido de frutas para desportistas esotéricos de longo, penoso e repetitivo curso: "penso que as mulheres são superiores aos homens", e depois, vai-se a ver e... nada. É a chamada superioridade energética disfarçada de musa que dá jeito nas horas de tédio... na verdade não são superiores nem inferiores, são iguais e diferentes, mas a igualdade incomoda muito mais do que uma superioridade concedida em argumentos para que, na prática, ao mais pequeno gesto de uma senhora (para alguns as mulheres duvidosas, mas muito intelectuais, não devem ser chamadas de senhoras, epíteto dado às simplórias, mas boas esposas, quando são) lá venha a corte de esoteristas formados nas leituras de toda a História com olhos de Crowley (para eles este mago é o complementar de Cristo disfarçado de oposto), bramir a literatura juvenil que os encantou nas noites em que nada se passava. Na verdade, apenas utilizam o argumento da "superioridade da mulher" para a afastar para bem longe, colocando-a num altar bem ideal de onde não possa sair, não se possa mexer e, muito menos, escrever ou falar, para que não lhes seja roubado o lugar; bem sair até pode, desde que seja para práticas sexuais consideradas muitíssimo sagradas por essa corte de imberbes mentais, altamente justificativas do autoconvencimento , bem no fundo, da superioridade masculina... Há que dizê-lo: os esoteristas portugueses são portugueses e, na sua grande maioria, tiveram uma família católica cujas virtudes lhes foram, desde cedo, impostas e a rebelião é tão pouco imprevista que é feita exactamente com as mesmas cartas de jogar com que joga a Igreja Católica. O bocejo é enorme. Nascer diferente de tudo isto, e nascer mulher ainda por cima, é estar condenado a não entrar na grupalhada e o pior é que é a única que existe. Os restantes ou são teósofos, com loucura agravada, ou são orientalistas cujo espectro vai desde o médio até ao extremo oriente e cuja linguagem não é totalmente nossa. Nascer diferente é uma condenação danada ao inferno em que este país se pode tornar. É por exemplo olhar de frente para estes tipos e sentir a pergunta num esgar que se torna quase sempre indisfarçável "mas o que é que este tipo quer?" e perceber depressa que a conversa é sempre a mesma, os tiques iguais (embora disfarcem dizendo que estão em campos opostos), os propósitos idênticos, e as atitudes altamente previsíveis. Dizem que as elites intelectuais estão por detrás de um país, ainda que pareçam ser as económicas e se assim é, não admira que o país esteja como esteja, atrofiado, inquinado, desgraçadamente preso a estereótipos internos, desde os medievais em que os fiéis d'amor canalizavam as energias sexuais para andar para aí a cantar porque, doutro modo, nada lhes saia e convinha ser anti-Roma quando se era filho desta, ao produto de uma Inquisição com um cheiro a mofo tão intenso que ainda não deixou de se notar mesmo passados todos estes séculos, passando pelas modas estrangeiras e estrangeiradas que agradam aos intelectuais quando se sentem habilitados a adquirir algum poder. Nascer diferente é a maior provação neste país por ter estes neo-contemporâneos por contemporâneos. E que de mulheres, não percebem nada. Quanto mais de arte... ou de iniciação que é exactamente o mesmo.
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