Fui vítima de bullying uma vez no Colégio Moderno por ter colocado um elástico no meu cabelo indomesticável em vez de uma bandelete. Fecharam-me na casa de banho e toca de humilhar. Mais tarde, o mesmo aconteceu com uma vizinha minha uns dois anos mais velha do que eu em casa dela. Tinha lá ido por convite da sua irmã que saiu por algum tempo e fiquei dentro de casa com uma "avariada" que só descansou quando me viu a chorar convulsivamente. Dessa vez foi a saia de xadrez o motivo da chacota. Depois, ao longo dos anos, sempre que voltava da escola, um grupo de cinco ou seis de vizinhas, quando me viam ao fundo da rua, preparavam-se sempre para embirrar comigo com dizeres : 'Lá vai a super-mulher", e risinhos, e embirrações, sem me conhecerem, a não ser de vista. Durou até ao dia, em que eu já farta de atravessar a avenida para não passar por elas, resolvi descer no lado do passeio onde elas se encontravam, e, ao ouvir o primeiro comentário e virei-me à pancada. O irmão mais velho de uma delas apareceu, separou-nos e deu um tal raspanete às parvas que elas nunca mais me incomodaram. Depois, no liceu, lembro-me de ter sido apedrejada, subitamente, sem explicação, por uma série deles, dez ou mais, com pedregulhos numa zona da escola com árvores e terra batida. Lembro-me apenas de ter subido a escada, lavada em lágrimas, sem compreender o porquê de me terem agredido. Foi tão violento que me tornei anti-social naquela escola e, por dois anos, continuei a ouvir insultos. Lembro-me uma vez, no autocarro para a escola de, à saída, me ter virado à pancada contra uma que me insultou só porque sim. Tivemos de ser separadas por pessoas que iam a passar na rua. Só senti paz quando a direcção dessa escola, depois de uma conversa com a minha mãe, decidiu que o melhor lugar para mim era a António Arroyo, escola para artistas. Lembro-me de entrar lá e de me sentir no paraíso. Ninguém, absolutamente ninguém, comentava o meu aspecto, a forma como era, a forma como me vestia. Sentia-me livre e entre os meus. A arte a resgatar-me e a fazer-me descobrir as palavras portuguesas, a História da Arte, com professores óptimos que me incentivaram. Foi maravilhoso. O mais estranho foi aquilo que se passou comigo já quarentona. A mesma cena de bullying passou-se num lugar onde isso seria altamente improvável e as consequências foram devastadoras. Quando pensava que já me tinha visto livre de tudo o que era bullying, eis que acontece de novo com gente "culta", numa casa de "cultura". E de novo fui resgatada por artistas. De novo me salvaram. E como isto aconteceu, se me perguntassem o que diria, se pudesse, às gentes do bullying, diria apenas que são fracos, sejam um, dois, três, quatro, cinco ou seis ou mais a fazer o serviço de humilhação. São fracos e tristes. E não temos nada a ver uns com os outros. A arte será sempre superior a essa gente. E acolhe-me nos seus braços. Essa gente é produto deste mundo. A arte, os artistas, são produto de um mundo superior que lhes está absolutamente vedado. De resto, desejo-lhes as maiores felicidades, aquelas a que têm direito dentro das suas limitações e que são muitas.
Bravo!!
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