sábado, 26 de junho de 2021

Sei-a de cor



A beleza de musica Celta, sei-a de cor. São arvoredos que passam por nós enquanto passamos por eles a cavalo. E não há diferença entre nós e eles. Vi que passavas na imensidão do espaço a voar, trazendo na mão a vara de Hermes e, nos pés, as asas de Mercúrio. E sorriu-te a deusa. Já ouviste falar no gesto mais humilde capaz de erguer as montanhas do mar? Já ouviste falar daquela que traz o eixo e o leva para onde quer que vá e que, por onde passa, deixa a alma imensa guardada no coração daqueles que outrora dormiam entristecidos pelas trevas?  E daqueles que, se a abandonam, mais tristes ficam do que já eram? Já soubeste alguma vez, do segredo da natureza? Que ele está na linguagem que se esconde no espírito, escondido, por sua vez, no corpo? Já te sentiste nómada no teu próprio corpo? Infinitamente, ninguém a pára. Olha que ela traz Deus com ela, a sussurrar-lhe ao ouvido a Sua glória e a retirar-lhe os véus sucessivos que a cobrem. Já reparaste que a donzela dorme e morre com um olho aberto e outro fechado e segurando na mão, Argos, o grande pássaro-universo que faz o mesmo? Já ouviste os seus passos enquanto dança?  Já pressentiste a alegria do seu coração? Já lhe disseste bom dia? Já ela desceu sobre ti com o seu beijo de morte, com o seu corpo de vida? Vê como dança quando fecha os olhos. Vê como se eleva e sobe acima do telhado. E mais do que voa, absorve as estrelas e mais corpos celestes existentes. Já a ouviste rir? Já viste o azul no fundo dos seus olhos? Já deslizaste com ela pelos espaços ocultos que não queres desvendar? Vem, e vê como segura a vida numa só mão enquanto cavalga pelo arvoredo e o arvoredo por ela. Porque és homem, tens os olhos baços quando entristecem demais. Quando isso acontece ficas, tão depressa, tão perto de seres um morto vivo. Mas ela não. Ela não, porque não necessita nem de ideias, nem de guerras. Vê, como balança de um lado para o outro, na balança, e brinca aos corações e às penas. E nos pés tem sandálias de flores e já não pisa o inferno há muito. E diverte-se. E diverte-se. E dança. Pulsa coração, pulsa coração e invade o mundo com o teu coração de alegria. É conquista dela. É a sorte dela. Cavalga pela floresta e a floresta está nos seus cabelos e a brisa é o seu vestido e o piar dos pássaros instalou-se na vertigem da sua dança. Procuras como um cego. Ela não procura. A música Celta, sei-a de cor. Dança-a ela de cor. Bom dia, diz a criança a meio da tarde. E só ela ouve o sol a nascer a meio da tarde. O coração pulsa com o sol. Faz nascer o sol a meio da tarde. Anda a correr dizem. Só se ouvem os cascos, tão depressa vai ela a passar. Ela é a pura dança. O sim e o não e o júbilo infinito. Não há poeta que a descreva nem homem que aguente o seu amor sem morrer. A floresta fria tornada quente, quando ela passa e as flores se abrem. Porque ela é o sol. E faz de todas as horas do dia uma aurora. A música Celta, sei-a de coração. 


 

Sem comentários:

Enviar um comentário