sábado, 26 de junho de 2021

Filosofia e pedagogia


 O problema é que a filosofia parte do desassossego sucessivo da alma e não da lógica formal, fria e geométrica da soma a atingir  dos vários pontos de vista possíveis e ninguém, no seu juízo perfeito quer desassossegados à sua frente numa sala de aula. É por isso que a filosofia pode nascer apenas de uma relação única entre mestre e discípulo e não pode nascer da relação desoquilibrada entre uma massa de alunos e um professor. O pedagogo não é um mestre, é um introdutor no mundo. Um mestre, faz o contrário, retira o discípulo do mundo. A filosofia não é questionar. É encontrar. A questão fica para os pedagogos. Como fica para os matemáticos ou para os físicos. A sabedoria é uma melodia, completa onde a questão está submersa, podendo emergir ou não. O problema das questões foi demonstrado pelo sofismo; elas já contém a resposta. É sob este prisma que as questões introduzem as pessoas no mundo, a sabedoria, por seu lado, é inquestionável. Até Platão se limitava a demonstrar e Agostinho da Silva tentava fazer o mesmo. Para eles, as questões eram uma brincadeira porque sabiam que vinham grávidas com a resposta, verdadeira ou falsa. A filosofia, ao retirar o filósofo do mundo prova o desfasamento que existe entre o filósofo e o mundo e isso só acontece quando há inquietação. A curiosidade é uma coisa, a inquietação é outra. A primeira é cerebral, a segunda arrasta a alma toda com ela. Os Descobrimentos são produto de uma enorme inquietação, só mais tarde se transformaram em curiosidade. O povo português é inquieto e por isso é eufórico e disfórico, tende a sair do mundo, por excesso de mundo e por excesso de ele próprio e é assim que é ingovernável. Não há tutor, nem governante que o ature. A filosofia não se ensina, vive-se. O que se ensina são perguntas e nelas se morre, se obedece passivamente às respostas. Uma alma passiva não é filosófica. A passividade nada tem a ver com a paz profunda, mestrado da filosofia... O topo da inquietação. 

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