De maneira a não nos desfazermos em lágrimas convém a não feitura da representação de uma diva. Caminhar, antes, por entre as anémonas deste aquário de maneira a que elas nos julguem peixes. O problema das divas é o esgotamento e o rosto triste e fragmentado quando, à noite, naqueles minutos antes de adormecer, se olham ao espelho. É uma guerra inglória que, embora não faça perder a alma, a conduz ao atraso na grande viagem que é a vida. Enquanto a diva serve de alimento pontual, porque é sempre pontual, aos homens, atravessar as águas como se fôssemos um peixe, permite-nos a escuta interna e também o passatempo, sempre voluntarioso (e nunca obrigatório) de uma certa lembrança aos homens do céu que ora esquecem, ora perseguem. A questão do facto de ser pontual ou não, neste caso, já não é da responsabilidade das divas, mas sim dos homens e, assim, a liberdade é muito maior e, essa escuta interna, é muito menos interrompida pelas necessidades de defesa que uma diva sempre acarreta. Essa aproximação à liberdade, sempre presente, foi-nos ensinada por quem já era livre há muito. E foi talvez o ensinamento mais precioso que nos foi dado em vida, porque, para além de ser um ensinamento, é sobretudo um segredo. Essa aproximação e o modo como é feito é indissociável dessa escuta interior. Às divas é dada a eternidade pela memória que deixam e que abandonam, aos seres livres é dada a memória da eternidade que alcançam e fruem.
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