quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

O Barroco do Barroco

 


Já muito se sabe da aproximação que existe entre o Barroco ocidental e o Zen, mais propriamente o Zazen Oriental e da forma como esta última corrente (no sentido tradicional de transmissão), provinda inicialmente da Índia e das práticas meditativas, absorve a influência do taoísmo, ou seja, do esoterismo chinês. Os opostos, as contradições, os aspectos complementares tendem a ficar unidos. No Zazen, por exemplo, o mestre, quando o discípulo em prática meditativa tende a adormecer, desperta-o com uma pancada dada com um pau. A calmaria contemplativa a par com alguma violência. No Zazen, certas partes do corpo devem estar contraídas e outras descontraídas. É uma prática baseada na aparente contradição. No Barroco ocidental, o "chiaroscuro", produz exactamente o mesmo efeito. A Alquimia, procura também a união dos opostos ou melhor, dos complementos. O espírito Barroco é complexo porque é algo que não se adquire, nasce-se assim, o que o torna incompreensível aos filhos exclusivos da racionalidade e aos seus netos, os racionalistas. Nesta época minimalista e facciosa, o Barroco é mal visto ou então é mal compreendido. No seu íntimo, ele abrange as contradições sem se contradizer. No minimalismo não há contradição, há uma repetição sem fim igual a si própria. Deste modo, uma das características de Kali Yuga, é a não variação e a instalação das ditaduras que nos dão a falsa percepção de que tudo está em movimento, quando, na verdade, há uma tendência para a estagnação, para a paragem, para a inércia. No minimalismo, a vertigem mantém-se igual a si própria por tempo indefinido. No Barroco, a "vertigem do Barroco" conduz efectivamente ao desmaio, à perda de sentidos e, por isso, à entrada numa outra dimensão. Os limiares são muito importantes, mas só são importantes se existirem de facto. Se forem uma mera abstracção ou ilusão, como é o caso do ciclo vicioso do espírito minimalista, conduzem apenas à angústia. Não direi que um filho do racionalista ou que um seu neto, imbuído de racionalismo sintam angústia perante um espírito Barroco, até porque não necessitam do Barroco para se sentirem angustiados uma vez que é essa a sua condição, mas que se parecem com boi a olhar para um palácio fazendo os comentários mais despropositados, disso não restam dúvidas. Não é correcto dizer que "parecem", são, sem sombra de dúvida, bois a olhar para um autêntico palácio porque outra coisa o Barroco não é, e, quem os vê de fora, a esses dois espíritos, frente a frente, mirando-se, não pode deixar de notar que um racionalista frente ao Barroco é um retrato vivo do "chiaroscuro", a maior prova de que o Espírito Barroco absorve qualquer racionalista, sempre que quer e se estiver para aí virado. Todas as verdades altamente congruentes de um Espírito congruente, são há muito um aspecto, e apenas um, de um Espírito Incongruente. A própria língua o admite, antes de existirem incongruentes tiveram de existir primeiro os congruentes, só mais tarde, e devido a um requinte da volta da cornocópia (que dá tantas voltas quantas as que quer) é que o prefixo "im" é acrescentado à palavra "congruente", tornando-a definitivamente completa em si mesma. É por isso que se desmaia. Se sai de si. Se entra em êxtase. Algo que qualquer racionalista ignora e, em casos extremos, chega a fugir a sete pés. Como os pés são sete, nem assim se escapa totalmente ao abraço do Barroco. O Sete, e o "T" andam lado a lado, tal como o "Y". E causa pânico nas encruzilhadas. Ou talvez não, depende do Espírito que viaja. Por vezes, há a calma do desmaio, os sentidos cessam e dá-se início ao início. 

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