No fundo, o que lhes interessa é a tecnologia. Não é a ciência em si porque essa, do modo como anda, conduz inevitavelmente ao erro: a especialização esbarra sempre com outras especializações e ficam a orbitar umas em volta de outras, num ciclo sem fim, à procura da saída de si próprias, tarefa impossível num mundo quantitativo. É a tecnologia que fascina por ser precisa (dentro de determinados parâmetros) e por gerar lucro e ainda pelo facto de se confundir tecnologia com evolução sendo esta última considerada algo muito positivo embora não se perceba qual é o seu fim último, nem, na verdade, isso interessar a quem tem como objectivo último o lucro. Em suma, vivemos num mundo estúpido e arrogante. A mim, deixou de me interessar. Sempre que ouço alguém encantado por este canto da sereia, faço orelhas moucas. Os tiques e truques são sempre iguais, é a história da salvação contada aos pequenos robôts. Atrevo-me a sonhar com Deus durante a noite e acordo desconfiada relativamente à reprodução por réplica. Foram as fábricas que conduziram a isto. A replicação insensível e desalmada dos objectos conduziu à replicação dos seres humanos. Tudo o que fazemos e o modo como o fazemos conta. Se nos pensamos e vimos como máquinas, ou como parte de uma máquina, assim seremos e assim será a nossa vida porque nos comportamos com a imagem que construímos de nós mesmos. Descartes deve estar a rir-se. Bastante. Embora tenha sido o seu Deus mecânico que o impediu de ver muitas coisas, ele agora ri-se. O seu impulso para estar bem com Deus e com o diabo tornou-se letra viva. Bem, viva, mas dentro das possibilidades mais pequenas da vida, ao nível dos insectos. É aliás a visão das próprias sociedades actuais vistas de cima: carreiros de insectos, incansáveis e velozes. Um ser contemplativo estraga o panorama. Como é que se avisa um bando de loucos? Não se avisa. Os loucos estão loucos, é essa a sua condição. Ninguém de "deslouca", embora todos se desloquem na loucura geral. Há trabalhos que não valem mesmo a pena. Há outros que valem a pena. O trabalho interno vale a pena. Feito em nós. Uma escuta inscutável pelas escutas tão em voga.
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