quinta-feira, 9 de abril de 2015

Esoterismo entre nós


Há nós tão cerrados que parecem ter sido feitos pelos marinheiros que o foram e o deixaram de ser e ainda por aqueles que o voltaram a ser, espalhados pela História do mundo. Nós duplos, triplos, tornando as paralelas unas,  formados que foram a partir das histórias, contadas no porão, onde, entre saudades e aventuras, olhando as estrelas, na cachimbada permitida, os enlaçaram esses marinheiros  a um ponto que, até para Deus, são quebra-cabeças porque o nó górdio divino é sempre  um raio que desmancha todos os poentes de uma vez.

E há outros, nós, feitos directamente lá de cima, corda pontuada ao longo da História, por essas voltas, tornando o baixo cima e o cima baixo, com a naturalidade de quem tece uma história que é amor interminável, e que puxa o mundo, por esse universo fora, tornando-o motivo da mais alta contemplação e da mais alta satisfação que aos humanos é dada viver.  Entre uns e outros há como que a diferença entre uma prosa difícil vinda da memória, cuja justiça, soa sempre a pouco, na imensidão das histórias que acompanham os homens e uma prosa fácil, bela, de simples palavras e gestos, mas na qual, a misericórdia prevalece, num toque simples de coração, no voo de asa que acompanha o passo. A primeira não espera e vai acontecendo, a segunda é toda esperança num devir igual a si próprio por provir de um passado que é tão fundo que não há memória sequer memória dele. Apenas acontecimento na plenitude dele.

 

(Cynthia Guimarães Taveira)

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