Há nós tão cerrados que parecem
ter sido feitos pelos marinheiros que o foram e o deixaram de ser e ainda por
aqueles que o voltaram a ser, espalhados pela História do mundo. Nós duplos,
triplos, tornando as paralelas unas, formados que foram a partir das histórias,
contadas no porão, onde, entre saudades e aventuras, olhando as estrelas, na
cachimbada permitida, os enlaçaram esses marinheiros a um ponto que, até para Deus, são
quebra-cabeças porque o nó górdio divino é sempre um raio que desmancha todos os poentes de uma
vez.
E há outros, nós, feitos
directamente lá de cima, corda pontuada ao longo da História, por essas voltas,
tornando o baixo cima e o cima baixo, com a naturalidade de quem tece uma
história que é amor interminável, e que puxa o mundo, por esse universo fora,
tornando-o motivo da mais alta contemplação e da mais alta satisfação que aos
humanos é dada viver. Entre uns e
outros há como que a diferença entre uma prosa difícil vinda da memória, cuja
justiça, soa sempre a pouco, na imensidão das histórias que acompanham os
homens e uma prosa fácil, bela, de simples palavras e gestos, mas na qual, a
misericórdia prevalece, num toque simples de coração, no voo de asa que
acompanha o passo. A primeira não espera e vai acontecendo, a segunda é toda esperança
num devir igual a si próprio por provir de um passado que é tão fundo que não
há memória sequer memória dele. Apenas acontecimento na plenitude dele.
(Cynthia Guimarães Taveira)
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