terça-feira, 14 de abril de 2015

O tempo mítico de Camões



 

 

(Solto na encosta sobre o mar,
pairas agora na Luz,
ao longe escreves ainda a invisível sorte...)
 
Vi-te antes na grande ruína dos mundos,
na glória pálida dos impérios,
na preferida demanda dos mortais,
vi-te nas hostes,
e nas praças desertas de sentidos.
 
Hoje vejo-te  nesse inflamado estado,
em pergaminho abandonado,
de quem não permite nem os próprios olhos,
nem que a tremura de um anjo te desfolhe,
malícia de mágoas em que tornaste,
Reclamando uma só alma...
Nefasto gozo de fel vestido,
não te sabem, nem te sentem
retiram-te a viagem e a vida...
Do príncipe nasceu um bobo
nas cortes, de Lisboa, de Sintra,
de novo exposto,
delas, de novo expulso,
e dado aos lobos...

(ela vem, a flor
vem lá do alto
lançada e em voo
por tudo o que não crês
assim enviada
no exacto tempo
quando disseres
que não vendo, vês)


(Cynthia Guimarães Taveira

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