segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019



Aqui deixo a resposta a um amigo que me questionou se sabia, por via de Cavalcanti, que este tinha escrito que um semi-heterónimo de Fernando Pessoa de nome Jean Seul De Méluret, tinha, por sua vez, por via da astrologia, adivinhado o ano e a forma como Salazar morreria.

"Olá! Já dei uma vista de olhos. Fui consultar um outro livro " Fernando Pessoa - Eu sou uma Antologia - 136 autores fictícios de Pizarro e Ferrari (envio fotos do livro e das páginas que referem esse semi-heterónimo - mais figura do que heterónimo, por enquanto porque o baú vai a menos de metade) e nenhum dos textos apresentados como sendo dessa figura mencionam tal previsão como poderá constatar pelas fotos anexas. 
Cavalcanti não é, à partida, confiável e quanto a mim tem uma imagem distorcida (provavelmente propositada para vender livros - para ele foi um filão...) de Fernando Pessoa. Basta lembrar que afirmou que o poeta "não tinha imaginação" o que é no mínimo ridículo. 
De maneira que há estudiosos mais sérios e que andaram pelo baú, como a Teresa Rita Lopes, a Manuela Parreira, por exemplo e que uma dessas não deixavam passar ou se deixaram foi lapso (que pode acontecer a qualquer um). Assim, o meu conselho é que tente entrar em contacto com alguém mais sério do que o Calvacanti e que tenha dispensado boa parte do seu tempo a estudar a obra de Pessoa. É certo que se interessou, o poeta, por astrologia (ou não fosse hermetista) e que corrigiu o vigarista e perturbado Crowley (uma espécie de Blavatsky do Satanismo) numas cartas astrológicas que esse "mago" toxicodependente do seu próprio ego havia elaborado (provavelmente durante um achaque químico, pois a nada mais esse tipo de magia obriga, sendo contra-iniciático pelas pouco duradouras iluminaçōes de origem duvidosa...), e lançadas logo em propaganda porque na publicidade, já naquela altura, é que estava o ganho, qualquer que fosse esse ganho. 
Os poetas, como muito bem lembrou Dalila Pereira da Costa, são os herdeiros dos profetas e os profetas, ao contrário do que é vulgar dizer-se, não adivinham coisas (isso são os adivinhos que fazem e estão abaixo dos profetas e dos poetas), simplesmente avisavam porque eram visionários (aquilo que um visionário vê não é o futuro, pode acontecer ou não) e avisavam em alto e bom som, na maioria das vezes contra a sua própria vontade (já vê que ser-se profeta é ter um papel ingrato ao contrário dos adivinhos que ganham sempre qualquer coisinha, nem que seja prestígio), e, embora gracejassem alguns, na época dele, apelidando-o de "bruxo do Oeste" (coisa curiosíssima, aliás), de adivinho e bruxo nada tinha, era um poeta com tudo o que isso acarreta, sendo uma dessas coisas a entrada numa espécie de caixa de ressonância onde tudo ecoa, do mais próximo ao mais longínquo, como essa ilha descrita na Mensagem como estando "próxima e remota" (sublimes versos). Respondi conforme soube. Se adivinhou que o Salazar ia morrer isso pode ter sido como o Manuel Alegre que também sete anos antes do 25 de Abril falava num poema de ruas com cravos vermelhos. É que ser poeta "é ser mais alto", e junto com a astrologia até pode ter resultados, mas como disse, um profeta não é um adivinho até porque os tempos se sobrepõem por não haver tempo (o tempo tal como o entendemos é apenas uma percepção nossa) e daí os "dejá vu" de que todos pedecemos sem saber porquê. Neste mesmo instante em que lhe escrevo há todos os passados e todos os futuros... dentro dos ciclos a que estamos submetidos e cuja precisão é sobretudo qualitativa. A quantidade de tempo é um mero efeito de uma causa maior. 

Boa noite

Cynthia"

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