Na foto, Luíz Zagallo
Andaram, o meu pai e a minha mae, nesses anos sessenta do passado século, por esses cafés da intelectualidade, por esses meios académicos, pelos saraus, espectáculos e tertúlias espontâneas, onde se conheceram, aliás, e, conheceu, a minha mãe, Luís Zagallo, actor, que mais tarde, nos anos oitenta, numa conversa tida com a minha mãe sobre memórias e a propósito de amores e paixões, afirmou:
"Naquele tempo, estávamos todos apaixonados uns pelos outros."
Seja por razões cósmicas, seja pelas decisões políticas, seja, e vou mais por aí, por causa do interior, da interioridade das pessoas e da cada vez mais ténue vida interior dos seres humanos que se limitam ao exterior, sejam quais sejam as razões, desde aí, o mundo foi endurecendo e as relações humanas foram ficando cada vez mais superficiais.
Nasci no último ano da década de sessenta e dela restou-me o eco desta frase que, de vez em quando, me assalta e me faz sentir a possibilidade de um sonho.
Mas o tempo não permite. É um tempo tosco e duro. Pesado como o metal. Enferrujado como o ferro ou sempre com a sombra da ferrugem em pano de fundo. A degradação é o que mais custa. Em tudo. No corpo. Nas relações humanas. Nas cidades. Nos campos. É o limite da ausência de estética, de beleza, de vôo.
D'antes, pensava que a beleza, em comparação com a graça e a sabedoria, num triângulo de palavras era assim uma espécie de objecto decorativo sem importância. Hoje sei, já não penso, sei, que a beleza é a síntese da graça e da sabedoria.
O único refúgio são os livros, a pintura e a paisagem (esta última como a síntese disso tudo). E a nossa alma sempre a caminho do Espírito. E vice-versa.
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