sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Prefiro


Prefiro ler um livro com má poesia a qualquer um daqueles livros que versem sobre "esoterismo" e que mais não são senão um amontoado de símbolos com um linguajar confuso, com expressões próprias e de uso exclusivo de um qualquer grupo, e que serve de fachada-isco para que mais adiram aos mesmos, até porque, normalmente, tais grupos vivem exclusivamente do número de aderentes mesmo que depois, lá dentro, voltem à linguagem de fachada-isco para supostamente ser feita a triagem daqueles que podem aderir aos grupos mais internos e mais fechados reservados a supostas elites. Prefiro a fantasia simples de um mau poema escrito por alguém que tentou sentir alguma coisa, que tentou vencer a barreira do medo de criar, porque esses tais livros, de "esotéricos encantantórios" nada explicam sobre os símbolos, expõe-nos como medalhas cruzadas em labirintos de palavras de maneira a que o leitor se sinta estúpido e ignorante e caia na armadilha de lhes ir pedir ensinamentos. O poeta tosco, que fala de gaivotas livres, ou da cor da papoila, sabe-se só na imensidão do mundo e procura a companhia das palavras para o definir. Em comparação é um acto absolutamente verdadeiro e honesto. Difícil, é, na poesia, ir para além dos símbolos que só servem para levantar o voo que é sempre um acto individual, e o poeta tosco, pelo menos tenta fazê-lo, ao contrário de esotéricos toscos, dividindo o tempo entre a recolha de minhocas para iscos e os aplausos, e tal é a carga de ambos, minhocas  e aplausos que nunca chegam a levantar vôo, ou sequer, a escrever um verso tosco. As palavras para esses esotéricos são armas, nunca asas. A linguagem, para eles, outro nome para a manipulação. Há mais sabedoria em todos os versos de Pessoa, solitário e abatido pelo mundo, do que em qualquer livro desses, escritos para um colectivo que só existe na  cabeça de quem os escreve porque o "colectivo" não existe nem nunca existiu, é uma invenção da sociologia, pseudo-ciência dos números,  "colectivo" ao qual, naturalmente, se dirigem esse pseudo-superiores-esotéricos. O poeta tosco só quer ser compreendido, os outros, fazem uma nuvem de incompreensão à sua volta, com o seu linguajar porque, nem querem ser compreendidos nem há nada neles para se compreender a não ser uma sede imensa de serem chamados mestres por alguém. Os poetas toscos, fazem um poema tosco e isso é francamente compreensível.

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