terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O bom e o mau gosto




https://vimeo.com/128428182




A propósito do desaparecimento deste senhor há uns dias, uma amiga colocou este vídeo interessante nas redes sociais. A polémica estalou. Quanto a mim não há polémica nenhuma. 

O homem ou tem uma dimensão sagrada ou não tem, não há meio termo. 
A beleza não é relativa. O nosso olhar é que é relativo e susceptível de sociabilização, ou seja, de receber influências várias do exterior, filosóficas ou estéticas, tanto faz. 

No universo sagrado:

Há uma diferença fundamental entre o "fanático", ou seja, aquele que transporta o "templo" dentro de si, completo e acabado e o aquele que constroi o templo interior, ou seja, existe em perpétua construção interior.

O templo existe pelo "ideal", transcendente, e como só existe pelo transcende, do qual o homem é um suporte e expressão, existe igualmente com uma dimensão estética. 

Podem existir um conjunto de homens que se identifiquem no plano estético porque os seus olhares coincidem.

O templo é interior, logo, o olhar que se desenvolve a partir dele é interior, e os homens podem encontra-se nesse olhar.

A dessacralização é apenas um afastamento, maior ou menor, daquilo que é sagrado, em definitivo e absoluto, não existe.

A dessacralização, ou seja, a tentativa de afastamento do sagrado coincide, frequentemente, com o mau gosto.

Todo o templo interior, que pertence exclusivamente a cada homem, está em perpétua construção. Alguns param a "obra", ou esquecem-se dela, e, nesses momentos, tentam afastar-se do sagrado. O seu sentido estético altera-se bem como o encontro com os olhares de homens que fazem o mesmo. É assim, que dois olhares podem admirar um urinol. Nesse momento estão equidistantes do sagrado. E possuem ambos o mesmo mau gosto. A palavra "mau" indica um afastamento do sagrado. O conceito de "qualidade" é universal. Por outras palavras, quando se ama um urinol como obra de arte, isso deve-se à incapacidade de se ir além desse urinol. Uma pessoa que goste em simultâneo da Vitória de Samocrátia e do urinol, terá de escolher o que levar para uma ilha deserta. Se levar um urinol, talvez não urine na praia, se levar a Vitória de Samocrátia, talvez a possa tentar copiar durante o muito tempo livre que tem. Também pode tentar copiar um urinol, mas nunca será um artista, apenas um empregado fabril. Se começar a fazer urinois diferentes, irá ter que lidar com a proporção, a cor, o adorno, etc. E talvez um dia faça uma Vitória de Samocrátia. Ou seja, talvez um dia atinja conscientemente uma maior dimensão do sagrado. 

O que quero dizer com isto é que não há separação entre o artista, o ser sagrado, o contemplador, o templo e a obra de arte. A matéria prima é fundamental porque se encontra nestes elementos todos. Já diziam o antigos... Sendo assim, qual é a polémica aqui? Nenhuma. A única que pode haver é entre fanáticos. Entre artistas, ou há um olhar coincidente ou não há, e ou estão mais próximos do sagrado ou não estão. Com as suas consequências, evidentemente. Na sociedade, no planeta, nas gerações. Como se vê, aliás. 



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