quarta-feira, 18 de março de 2020

No supermercado

(Auto retrato meu tirado há umas semanas atrás depois de colocar a echarpe na cabeça na casa da Catarina antes do início da explicação de matemática, só para a fazer rir - já devia ter idade para ter juízo) 


Hoje lá fui ao supermercado meio vazio. Estava na fila, com a devida distância de segurança entre mim e o senhor à minha frente e, para além dela, um carrinho a abarrotar com garrafas de água entre nós. Ouço a voz de uma senhora atrás de mim: "Você não está a cumprir a distância de segurança!". Estava visivelmente zangada. Eu nem a tinha visto porque estava virada para a frente e ela a dois metros atrás de mim. Pedi desculpa (hábito idiota quando não as devo pedir, mas faço como o meu cão Paxá que, desde que nasceu, fez questão de sublinhar que não queria problemas com ninguém, nem com humanos, nem com animais, afastando-se mal vê que a coisa pode correr mal), dei dois passos para o lado para ficar ainda mais longe dela. Entretanto abriram outra caixa. Era a minha vez, e eis que a moralista, altamente preocupada com a saúde pública, dá um passo para a frente, finta-me, vai para a caixa que tinha acabado de abrir, passa à minha frente (esquecendo-se por completo da "distância de segurança"), e coloca as coisas no tabuleiro. A rapariga da caixa ainda me chamou mas encolhi os ombros  e disse-lhe que não tinha importância. Um casal abordou-me, indignado,  com a atitude da mulher, e perguntou-me se tinha visto o que a senhora tinha feito. Disse que sim e que era assim. A senhora, só dizia: "Como é que é possível? Como é que é possível?" Respondi para dentro : "O mundo está cheio de moralizadores que são os primeiros a provocar e a agredir e depois cantam do púlpito e dizem não sabem nada, não viram nada, nem as pessoas que acabaram de agredir". Evidentemente, a senhora saiu e desapareceu, mesmo perante a consternação das testemunhas (nestes casos é bom ter testemunhas). Enfiei-me no carro e fui dar uma volta maior só para ver o verde e o mar, isto enquanto o Conselho se Estado decide o que há-de fazer connosco. Há quem acredite que "o mundo não vai mais ser o que era", mas a julgar pela atitude das pessoas, umas comprando tudo o que vêem sem pensar nos outros, outras a nem sequer saber respeitar uma fila, o mundo, depois disto, vai continuar a ter moralizadores a cantar no alto púlpito (deviam ter sido padres), e outros, parvos, que aprendem com os cães a não ter problemas com ninguém para não piorar a situação. A aprender com os cães, apesar de tudo, vamos melhor do que a aprender com certas pessoas, que cantam bem, mas não convencem. A história das nossas vidas está cheia desses exemplos, de pessoas profundamente egoístas sob a capa do altruísmo.

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