Parece que os chineses saíram de casa e que foram, depois da epidemia, passear para os jardins. Foram para os jardins ver as flores, as árvores e os lagos com cisnes. Foi a reacção natural.
Constroem-se caixotes que fingem ser casas. A natureza não é nem para venerar nem para ser acompanhada nas suas formas. O distanciamento da arquitectura para com a natureza parece ser uma marca contemporânea. Perguntar-me-ão: "O que tem a ver a arquitectura com a pandemia?". Respondo: "Tudo".
O planeta é a nossa casa, o modo como a veneramos, cuidamos e a acompanhamos, é o modo como estamos no mundo. O problema do vírus é um problema de arquitectura. Achámos que a globalização do gosto, do espaço, era óptima e independente da natureza. O que o vírus mostra é que nada é independente da natureza. Ela apanha-nos quando quer e ultrapassa-nos se quiser. Substimá-la nas nossas obras é o acto mais estúpido e suicida que podemos ter. A globalização trouxe uma só cultura, um só sistema económico, uma só forma de estar perante a natureza (o mais separada dela possível), uma só forma de criar (os caixotes são todos iguais, sem telhas por onde a água desliza, sem jardins abertos aos olhos de quem passa, circundados por muros altos de chapa ou de tijolo, sem curvas como as da natureza).
Como já escrevi, a natureza não precisa dos homens para nada, segue o seu percurso porque tem de o seguir, mas nós, precisamos dela absolutamente. Acompanhá-la nas suas curvas, na sua diversidade (que é o contrário da globalização), no seu desenvolvimento, enfim, guardá-la como um tesouro que se aprecia e como fonte de sugestão de criação.
O público do que escrevo começou por ser constituído por filósofos com tendências pseudo-aristocratas (muitos deles recusando a aristocracia: contradição nítida) de "iniciação". Não passavam de burgueses relativizantes. Refugiei-me no povo com as mãos sujas de terra e de lixo. Os outros, permaneceram todos "altos-iniciados". O vírus sabe lá disso. A natureza, sabe lá disso. Toda a linguagem da natureza, por sua vez, lhes passa ao lado. Preferem bramir a espada e pensarem-se templários de um templo imaginário ou preferem justificar as viroses com os astros como se eles fossem responsáveis pelos micróbios que os atacam. Não são. A única responsabilidade é nossa por não sabermos venerar nem cuidar da natureza como se fosse um tesouro com tudo o que tem de benéfico e de perigoso. A modernidade persiste em gostar de caixotes e da aberração em termos estéticos porque não tem olhos para a natureza como modelo. A natureza é cega para os homens, como a justiça. Sempre houve epidemias e sempre haverá mas, graças às "globalização" de tudo, desde os sistemas sociais aos económicos, passando pelas formas de ver e de estar, as epidemias atingem todas as esferas humanas, sem olhar a excepções (até porque a globalização tende para a inexistência de excepções) e, quando esta é atingida, é totalmente atingida, do princípio ao fim.
A mentalidade dos caixotes na arquitectura é o contrário da casa e do planeta. Quando o quadrado é atingido, só lhe resta ser esfera. Circular. Como o jardim. Parece que os chineses foram passear para os jardins, depois da epidemia.
Constroem-se caixotes que fingem ser casas. A natureza não é nem para venerar nem para ser acompanhada nas suas formas. O distanciamento da arquitectura para com a natureza parece ser uma marca contemporânea. Perguntar-me-ão: "O que tem a ver a arquitectura com a pandemia?". Respondo: "Tudo".
O planeta é a nossa casa, o modo como a veneramos, cuidamos e a acompanhamos, é o modo como estamos no mundo. O problema do vírus é um problema de arquitectura. Achámos que a globalização do gosto, do espaço, era óptima e independente da natureza. O que o vírus mostra é que nada é independente da natureza. Ela apanha-nos quando quer e ultrapassa-nos se quiser. Substimá-la nas nossas obras é o acto mais estúpido e suicida que podemos ter. A globalização trouxe uma só cultura, um só sistema económico, uma só forma de estar perante a natureza (o mais separada dela possível), uma só forma de criar (os caixotes são todos iguais, sem telhas por onde a água desliza, sem jardins abertos aos olhos de quem passa, circundados por muros altos de chapa ou de tijolo, sem curvas como as da natureza).
Como já escrevi, a natureza não precisa dos homens para nada, segue o seu percurso porque tem de o seguir, mas nós, precisamos dela absolutamente. Acompanhá-la nas suas curvas, na sua diversidade (que é o contrário da globalização), no seu desenvolvimento, enfim, guardá-la como um tesouro que se aprecia e como fonte de sugestão de criação.
O público do que escrevo começou por ser constituído por filósofos com tendências pseudo-aristocratas (muitos deles recusando a aristocracia: contradição nítida) de "iniciação". Não passavam de burgueses relativizantes. Refugiei-me no povo com as mãos sujas de terra e de lixo. Os outros, permaneceram todos "altos-iniciados". O vírus sabe lá disso. A natureza, sabe lá disso. Toda a linguagem da natureza, por sua vez, lhes passa ao lado. Preferem bramir a espada e pensarem-se templários de um templo imaginário ou preferem justificar as viroses com os astros como se eles fossem responsáveis pelos micróbios que os atacam. Não são. A única responsabilidade é nossa por não sabermos venerar nem cuidar da natureza como se fosse um tesouro com tudo o que tem de benéfico e de perigoso. A modernidade persiste em gostar de caixotes e da aberração em termos estéticos porque não tem olhos para a natureza como modelo. A natureza é cega para os homens, como a justiça. Sempre houve epidemias e sempre haverá mas, graças às "globalização" de tudo, desde os sistemas sociais aos económicos, passando pelas formas de ver e de estar, as epidemias atingem todas as esferas humanas, sem olhar a excepções (até porque a globalização tende para a inexistência de excepções) e, quando esta é atingida, é totalmente atingida, do princípio ao fim.
A mentalidade dos caixotes na arquitectura é o contrário da casa e do planeta. Quando o quadrado é atingido, só lhe resta ser esfera. Circular. Como o jardim. Parece que os chineses foram passear para os jardins, depois da epidemia.
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