domingo, 22 de setembro de 2019

A promessa



Não se encontram
As elevadas canduras
Neste chão de pedra
E de terra poeirenta
Apenas no sol descendo
Livre de o fazer
Banhando as águas
Iluminando as suas profundezas

Se o teu sorriso fosse verdade
Ia com ele até ao fim do mundo
As hipóteses vivas de não o ser
Não chegam para o sustentar

Se escolhesse fazer poemas
Tocava baladas a estas casas
E a este mar d'oiro de sempre
Onde fomos sem o saber

Se escolhesse dizer-te alguma coisa
Nunca te traria pela mão
Levar-te-ia acima de mim
Como se fosses um pássaro a amanhecer

E das derrotas e das causas
E das lutas e das vitórias
Ficavam apenas as memórias
De quando rias, sem o saber

Não foste comigo até lá?
Não trouxeste a rosa que era tua
E prometida.
Agora sei que vives nesse azul baço
Sem o brilho da manhã

Foram tantas as vírgulas
No teu texto
Tantas onde o mundo se deteve,
À espera da próxima palavra
Que seria todo o verso no princípio desejado

Até os espelhos enegreceram
E tornaram os vultos apenas sombras
Ténues e infelizes de um Inferno
Que julgam representar

Fiquei a salvo nessa ondulação
Onde a relva parece um seio
Estendendo os braços
Para a lua e para o sol
E dando os passos que desejava

(Cynthia Guimarães Taveira)

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