(Pintura de Cynthia Guimarães Taveira)
Tornou-se tudo extremamente íntimo e de difícil comunicação.
Fui tirar o curso de Antropologia. Gostava, sobretudo, de conhecer outras
formas de pensar, de ver o mundo. No fundo, essa é a verdadeira viagem. O
Primeiro Ministro do Canadá foi agora pedir desculpas aos seu eleitorado e
àquele que quer cativar por, quando era ainda adolescente, ter pintado a cara de preto para se
mascarar de Aladino. Ao que parece foi julgado por meia dúzia de pessoas
primárias (e não primitivas, totalmente diferente) por ter sido esse um acto
racista. O Primeiro Ministro pediu desculpa e, na verdade, nem deve fazer a
miníma ideia porquê. Quem se mascarar de bruxa será Inquisidor? Quem se
mascarar de Judeu, será Nazi? A incapacidade de viajar é o resultado do
multiculturalismo e do globalismo e o que gera são comportamentos idiotas como
o deste Primeiro Ministro que veio pedir desculpa sem ter culpa de nada à
excepção de dar ouvidos a meia dúzia de energúmenos que confundem a Máscara com
a pessoa, e não sabem a diferença entre Persona, Pessoa, e Personalidade. No
fundo, o que atormenta os críticos da máscara do Primeiro Ministro é a cor. A cor
negra de Aladino que duvido que tivesse sido imaginado louro de olhos azuis ou
se o foi isso se deverá a um outro fantasma ainda pior: o da invasão ariana (é
pior porque faz lembrar os delírios nazis). A cor, sendo motivo de tormento, é a mais pura
forma de racismo que se pode ter. Andou Fernando Pessoa a dizer que o Quinto
Império seria um Império Cultural. A Cultura é uma certa forma de estar. Não me
chateia nada imaginar uma reunião familiar de pretos retintos (são pretos como
nós somos brancos e também há os mulatos que dizem ser “café com leite”), todos
a comerem Moamba ao almoço e um cozido à portuguesa no almoço seguinte. E que
eu possa fazer o mesmo nos dias seguintes, eu de “elevada” brancura. Desde que
todos estejam bem. Na nossa cultura está-se bem. Era isso que Fernando Pessoa
queria dizer: está-se bem com a língua, com a poesia, com a forma de se estar. E
se o Quinto Império significa, entre outras coisas, estar-se bem, isso até pode
implicar que eu me mascare de preta e que alguém se mascare da branca que sou. E
ninguém fica ofendido porque não nos interessa a cor. Interessa-nos estar bem.
Também parece haver uma espécie de “novos tradicionalistas”
que tentam legitimar tudo o que fazem quando lêem alguns dados tradicionais a correr e aos
tropeções. Confundem política com maior ou menor aproximação às tribos
primitivas. Como antropóloga posso dizer que aquilo que é mais interessante são
essas várias formas de pensar e de ver o mundo. Isso é o mais interessante e é
também aquilo que é mais superficial. O que é mais importante, é conseguir
encontrar tanto nas tribos primitivas como na nossa suposta civilização de há
uns milénios para cá, aquilo que são dados que pertencem à Tradição Primordial.
Esses “Novos Tradicionalistas” cujo ímpeto é, sobretudo, político, recorrem a
este ou àquele costume para demonstrar que o ser humano se deve anular perante
um poder superior. Normalmente são extremistas, quer de esquerda, quer de
direita. «Sim, porque nas tribos não há “eu”, não há “personalidade”, todos se “anulam”»
e ficam assim legitimadas tanto as ditaduras de extrema direita como as ditaduras
do proletariado, noções evidentemente modernas como é moderna, igualmente, a
visão católica dos seus próprios dogmas.
Ora conseguir descobrir os dados da Tradição Primordial é
aquilo que se apresenta como o mais difícil e o menos político possível. A situação de tal busca é estar perante o
Paraíso. E ninguém se atreve a dizer o que é o Paraíso. Atrevem-se apenas a ter
visões políticas que confundem com o Paraíso. E não podiam estar mais distantes
dele.
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