quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

O Show



http://algarvepressdiario.blogspot.com/2010/02/casa-museu-jose-manuel-rosado-abre.html?m=1

Muito antes destes histerismos dos movimentos LGBT e das "Associação de defesa", das Paradas de Orgulho, dos Festivais da Canção com mulheres Barbudas e de lésbicas vencedoras e de ministras assumidas, enfim, antes desta vitimização emproada e manobrada por uma "esquerdite" ascendente tive o privilégio de conhecer José Manuel Rosado, actor de raíz e de talento, criador da personagem Lídia Barloff, cujas unhas, exageradamente grandes do seu show "Danca das Bruxas" quase saíam das notas de mil escudos, também exageradamente grandes mandadas fazer como selo e signo desse Show e que me acompanharam na infância trazidas pela minha mãe numa das noites desse espectáculo. Era o barroco ilimitado e transbordante nas minhas mãos pequenas segurando a grande nota de mil com uma enorme bruxa de olhos abundantemente pintados fixando-nos com um olhar de provocação, acompanhando o rosto com unhas de cinco ou seis centímetros. Era mágico. E o que era mágico, diferente, original, arte, em suma, hoje é política e "direitos". Aquilo que existe é a decadência, o tornar "corriqueiro", normal. Só falta a bata e a esfregona na mulher barbuda para se dar cabo de vez do luxo das lantejoulas e das plumas (com 11 anos escolhi duas encharpes feitas de plumas para oferecer a um travesti amigo da minha mãe, foi a minha forma de contribuir para o show), e não há mais separação entre a cortina do espectáculo e o público. O show adormeceu para dar lugar a uma realidade feita de normalidade a mais onde não há espaço para a imaginação e muito menos para a arte. A normalidade é o maior tédio que nos é concedido à custa da normalização. Tudo tem de ser "mostrado" de tal forma que o "show" da normalização se tornou corriqueiro. Não andamos muito distantes dos faquires e dos encantadores de serpentes em cada esquina: prove que é gay desfilando a normalidade de o ser; prove que é mago desfilando a normalidade de não o ser. Faça um show todos os dias. Mostre, se faz favor, como a normalização vingou e tornou a suposta civilização na mais entediante de que há memória... Faça da sua vida um acto de fama. Ainda que todas as famas juntas se eclipsem e anulem mutuamente. A auto nomeada civilização é, provavelmente, a mais estúpida de que há memória: nunca se viu tamanho acesso a tanta informação e a tanta memória directamente proporcional a tantas multidões desinteressadas, amnésicas e estúpidas. É obra! 

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