segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Pérolas de Dalila Pereira da Costa


"D. João II, morrendo em Alvor, sozinho e apartado de qualquer laço aí presente de ser de seu sangue, mulher ou filho, unicamente rodeado daqueles que durante sua vida o tinham secundado na sua obra universal, a descoberta da terra.
Para eles então, uma conversão de perspectiva, ou vocábulo, será necessário efectuar do nosso lado: vê-los, não sob a medida humana, mas trans-humana. Eles nesse tempo estavam possuídos por uma força transcendendo suas pessoas efémeras e sentimentos humanos, e obrigando-os a eles e a todos os homens que os rodeavam nessa pátria, a semelhantemente por ela serem possuídos, a ela submetidos; força que não podemos medir por nenhuma medida de sentimento ou razão puramente humana: tudo que neles ou nos seus feitos (como meios usados para a realização dessa obra) nos poderá surgir sob o aspecto, ou nome, de frieza ou crueldade, será tão-somente acto ou ser, para além do bem e do mal, como condicionalismos humanos. Eles então foram possuídos ou arrastados, por essa força, para a realização mundial e eterna do seu reino; e agora a medida da contemplação e valorização, terá de ter idêntica proporção." 

Dalila Pereira da Costa, a Nau e o Graal, Lello & Irmão Editores, Porto, 1978, pág. 92

Este pequena citação desta obra de Dalila P. da Costa, marca o eixo fundamental que divide o reino do misticismo e o reino da Iniciação que, como referiu René Guénon ao longo de toda a sua obra, frequentemente são confundidos embora sejam dois reinos totalmente diferentes. É apenas quando o reino do misticismo entra em harmonia com um determinado mapa que se liberta de si próprio e inicia o seu percurso pelo Reino da Iniciação que é d'outra natureza. 
Dalila P. da Costa, apela, no texto, à nossa própria conversão em termos de perspectiva ou de vocábulo relativamente aos factos históricos. Já não numa perspectiva da "fábrica de Santos", mas sim, numa perspectiva iniciática na qual o supra-humano adquire a "vontade do nosso gesto" ou "nosso gesto adquire a vontade supra-humana". Este tipo de perspectiva está hoje completamente ausente na análise das Descobertas e das acções humanas nelas acontecidas simplesmente porque o máximo que se consegue vislumbrar, como experiência de vida, fica no patamar do misticismo onde o indivíduo, naturalmente, prevalece como força e motor de qualquer acção, inclusivamente das mais subtis. Quando nos parece haver, de facto, uma perspectiva iniciática de analise das Descobertas e das acções nelas acontecidas vimos, mesmo que de relance, ser esta produto de uma representação teatral incutida pelas leituras e não pela iniciação em si, que nunca a houve nos tempos correntes...  De modo que, incapazes de projecto para o pais,  incapazes de união e incapazes de iniciação, toda esta linguagem empregue pela autora permanece um mistério por desvendar, ligado, indissociável, ao nosso próprio mistério como povo. Resta apenas observar que há uma correspondência entre o macrocosmo e o microcosmo. 

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