quinta-feira, 17 de outubro de 2019

A exteriorização


Pintura de Cynthia Guimarães Taveira

Chegados a este fim de ciclo parece não haver vida interior que, uma vez exposta publicamente, não fique sujeita ao ridículo. Se o poeta canta é apedrejado por uma qualquer pedra ainda que outros o louvem num exagero imperdoável. Já de si, a vida interior exposta sofre uma espécie de queda, raramente ela aparece sob a forma de um único símbolo o que tornaria o facto menos vulnerável, mas, estendendo-se pelo espaço, difundindo-se, expandindo-se, a vida interior afunda-se no inconsciente dos outros aos quais não pertence e se se afunda no consciente dos outros, aos quais igualmente não pertence, rapidamente adquire todas as formas possíveis, numa perda irremediável de tempo. O mais que há a fazer é uma arte que nos redime no silêncio e no lado oculto da lua ao qual ninguém chega com os seus tentáculos do sol fisicamente negro. Toda a extroversão corre o risco de ser um contributo para o estado caótico actual. A ser feita, deve indicar o belo, o bom, e a inteligência, três virtudes apenas reconhecíveis por elas mesmas.

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